Com a frase "Mais respeito, menos violência" estampada em uma camiseta preta,
o professor de Educação Física Juliano Mantovani esteve no programa Encontro com Fátima Bernardes na manhã desta sexta-feira (23) para comentar o ataque a uma escola de Charqueadas, na Região Metropolitana de Porto Alegre, quando um adolescente feriu alunos com uma machadinha na última quarta (21).
Mantovani foi quem protegeu os estudantes do ataque e tirou da mão do agressor o instrumento e uma garrafa com combustível. O professor percebeu que algo estranho estava acontecendo naquele início de tarde no Instituto Estadual de Educação Assis Chateaubriand quando ouviu um estouro e gritos de crianças.
— Eu pensei que fosse um curto circuito, mas aí eu visualizei o rapaz na porta da escola. Ele começou a aplicar golpes nas crianças com uma machadinha e não deixava elas passarem na porta da sala. Eu tenho duas filhas, de três e seis anos, e na mesma hora me pareceu que eram elas que estavam gritando. A única ação que me passou
(na cabeça) naquele momento foi desarmá-lo — contou o professor no programa.
O barulho relatado por Mantovani ocorreu quando um coquetel molotov foi explodido pelo agressor. O professor contou que havia levado os alunos até a quadra da escola, mas precisou voltar à sala dos professores para buscar materiais que havia esquecido. Foi quando ouviu o estouro e o grito das crianças.
Além de retirar a machadinha da mão do adolescente, o professor removeu outro artefato explosivo que estava nas mãos do agressor. Na reação, os dois se desequilibraram e caíram, e o adolescente fugiu.
— Dava para ver na ação dele, quando ele aplicativa os golpes, que ele não tinha só fúria, mas estava muito assustado, muito perturbado. Quando ele caiu, ele me olhou, mas não tentou contra-atacar. Ele decidiu fugir. Eu fui atrás dele, mas perdi na velocidade. Quando ele pulou o portão da escola, eu fui para pular também, mas aí tive que fazer uma escolha: persegui-lo ou voltar para ajudar os alunos. E eu aí voltei — contou Mantovani para Fátima e convidados.
No programa, o professor também comentou o fato de já ter dado aulas para o adolescente, que é ex-aluno do colégio atacado. Após se apresentar à polícia, o jovem foi levado provisoriamente para uma unidade da Fundação de Atendimento Socioeducativo (Fase).
— O período em que ele foi meu aluno, foi pouco tempo, de nove meses a um ano, e ele até era um aluno quieto, mas participava, fazia as atividades físicas... — lembrou.
O trauma vivido pela comunidade escolar do Instituto Estadual de Educação Assis Chateaubriand foi comentado por convidados do Encontro. As aulas na escola serão retomadas na próxima segunda-feira (26).
— Vocês vão ter que conversar e trabalhar o sentimento de gratidão, lembrar que foi bom que o ataque foi menos grave. Isso faz com que a criança não volte para a sala de aula com medo. O diálogo em casa e na escola vai ser fundamental — explicou o psicólogo e escritor Rossandro Klinjey.