Para a Polícia Civil, o ex-prefeito de Estância Velha, no Vale do Sinos, Elivir Desiam, 57 anos, premeditou o assassinato da namorada e a própria morte. A investigação do caso, ocorrido em 29 de dezembro do ano passado, foi finalizada na última semana. No inquérito, Toco, como era conhecido, é apontado como autor da morte de Lúcia Bialoso Valença, 35 anos. Ele morreu por afogamento, na praia de Imbé, no Litoral Norte. Caso o Ministério Público (MP) tenha o mesmo entendimento da polícia, deverá pedir o arquivamento.
Segundo o delegado Márcio Niederauer, titular da Delegacia de Polícia de Estância Velha, a necropsia apontou a morte da funcionária pública por asfixia mecânica (estrangulamento) e o resultado do laudo sobre a coleta de material genético embaixo das unhas da vítima também confirmou a hipótese de que o crime tenha sido cometido pelo político.
— O material (embaixo das unhas de Lúcia) era compatível com o DNA do Toco, o ex-prefeito. O que acaba indicando e confirmando tudo que a investigação já vinha demonstrando, que, na verdade, ele havia matado a vítima por estrangulamento, sufocamento. É bem comum que nesses casos, ao tentar se defender, a vítima fique com material do agressor embaixo das unhas — explica.
Após Toco ter entrado em contato com um ex-assessor, a Brigada Militar foi até a residência de Lúcia, onde ela foi achada morta no chão da cozinha, após a porta ser arrombada. Sobre o corpo, foram encontrados R$ 3 mil. Para a polícia, é um dos indicativos de que Desiam teria planejado o crime. A investigação concluiu que o valor foi deixado ali para custear os serviços fúnebres da vítima.
— Se chegou à conclusão de que ele deixou (o dinheiro) ali para os funerais mesmo. O que é mais um indicativo de que a ação foi premeditada — afirma o policial.
Ainda segundo o delegado, a investigação conseguiu identificar o trajeto feito de carro pelo ex-prefeito, desde Estância Velha até Imbé. No Litoral Norte, Desiam teria deixado uma caixa de documentos com a ex-esposa, antes de embarcar de volta no veículo.
— Há uma testemunha que confirma isso, que viu ele deixando a caixa de documentos. A ex-esposa estranha e chega a falar com ele. O Toco não responde e sai com o carro. Momentos depois, ele faz uma ligação para um ex-assessor, já à beira-mar. Inclusive, o assessor ouve o barulho do mar. Ele diz que teria apertado o pescoço da vítima e depois liga para a ex-esposa, diz que fez bobagem, não entra em detalhes do que fez, mas diz que vai resolver tudo e, em seguida, comete suicídio — relata Niederauer.
Para a polícia, na sequência, o político entrou no mar. Ele foi resgatado por guarda-vidas na altura da guarita 130, em Mariluz, e conduzido para o posto de saúde do município, onde teve parada cardiorrespiratória e morreu. Desiam foi duas vezes prefeito de Estância Velha e candidato a deputado estadual nas eleições de 2018 pelo PTB.
Relação conturbada
Embora familiares tenham relatado que o casal estava feliz com os preparativos para o casamento civil, que deveria ocorrer em janeiro, a investigação identificou que Desiam e Lúcia viviam uma relação conturbada.
— Temos testemunhas que confirmam que, embora estivessem com casamento marcado, havia problemas sérios no relacionamento. Isso foi percebido por amigos próximos. Além disso, dias antes da morte, o ex-prefeito chegou a ir até o lar de idosos onde a mãe dele vivia e deixou os cartões bancários. É outra demonstração de que ele tinha esse plano.
No inquérito, Desiam é apontado como o autor do feminicídio da namorada. No entanto, como também morreu, é extinta a punibilidade. Caso o MP tenha o mesmo entendimento, deverá solicitar que o caso seja arquivado. O delegado diz ainda que não foi encontrado nenhum indício de participação de outra pessoa:
— Não há nada indicando participação de terceiro no suicídio e de forma alguma no feminicídio.