Uma variação do golpe do falso depósito, aplicado a partir de anúncios publicados em sites de venda, provocou momentos de tensão para um casal de Porto Alegre. O crime, que começou como uma fraude, terminou em assalto à mão armada. Foi assim que a coordenadora administrativo-financeira Sheila Espíndola, 43 anos, perdeu seu carro, avaliado em R$ 35 mil, no mês passado, na Capital.
De acordo com Sheila, ela e o marido decidiram vender o veículo — um Ka — para pagar uma cirurgia para a filha, procedimento não coberto pelo plano de saúde. Deixaram o carro em uma revenda e, ao mesmo tempo, anunciaram no site OLX.
— Um senhor de meia-idade entrou em contato com a gente mostrando interesse. Disse que a esposa havia saído de uma internação para tratamento de câncer e que ele queria fazer uma surpresa, comprando o carro — conta Sheila.
O casal propôs ao homem que fosse até a loja onde o carro estava exposto. Mas, com argumentos de que preferia encontrar os proprietários para testar o carro e dizendo que, caso sua esposa aprovasse, pagaria à vista, convenceu Sheila e seu marido a encontrá-los em outro local.
Foi marcado um encontro na Rua Domingos Seguézio, no bairro Vila Ipiranga, nas proximidades de um shopping center, às 16h. De acordo com Sheila, ela e o marido foram com o carro ao local combinado. Por WhatsApp, o suposto comprador enviou uma mensagem. Queria saber se haviam chegado e quem estava ali.
— Era uma rua movimentada, cheia de prédios. Não desconfiamos de nada, até aparecer, do nada, um rapaz novo e bem-vestido com um revólver imenso na mão. Foi tudo muito rápido. Botou a arma no meu marido, mandou que deixássemos tudo no carro, saíssemos e não olhássemos para trás. Muito triste. Anos e anos de trabalho estavam no meu carro —lamenta Sheila.
Segundo a coordenadora administrativo-financeira, no mesmo dia, o irmão de uma colega de trabalho seguia para Guaíba para um encontro semelhante. Alertado por telefone, parou em um posto de gasolina, ligou para o suposto comprador e propôs trocar o local combinado. O interlocutor, então, desligou o telefone e não atendeu mais.
Responsável pela área onde houve o assalto, o titular da 14ª Delegacia de Polícia de Porto Alegre, delegado Cléber dos Santos Lima, alerta:
— Tudo que é feito via internet precisa ser checado. Não se sabe quem está do outro lado. A vítima nunca deve se expor para pessoas que não conhece. Se marcar encontro, que seja em locais públicos e que, antes, se certifique com quem se está falando. Já usaram até nomes de policiais para aplicar golpes.
O que diz a OLX
Procurada pela reportagem, a OLX disse que não teve acesso a detalhes deste caso e, por isso, não foi possível investigar ou tomar as devidas providências com relação a esta situação específica.
"A empresa disponibiliza espaços para que usuários possam anunciar e comprar produtos e serviços de forma rápida e simples. Diariamente, por volta de 500 mil anúncios são inseridos na plataforma. Toda a negociação é realizada fora do ambiente do site e do aplicativo, portanto, a empresa não faz a intermediação nem participa de qualquer forma das transações", alega, em nota.
A empresa diz que os usuários devem respeitar os termos e condições de uso e que a ferramento foi criada para auxiliar no desenvolvimento social e econômico do país. Na nota, a OLX afirma ainda que "ferramentas disponíveis no mercado são utilizadas por terceiros de má índole" e que condena este tipo de atitude.
"A empresa preza em proporcionar uma boa experiência aos seus usuários. Para isso, oferece dicas para o momento da compra ou da venda e disponibiliza ferramentas para aprimorar a plataforma constantemente. Em parceria com o Itaú Unibanco, a plataforma oferece a ferramenta Compra e Venda Protegida, um serviço que guarda o sinal da transação de um veículo até que as partes envolvidas autorizem o pagamento para o vendedor. Isso proporciona um prazo para que as partes façam as conferências necessárias — documentos, verificação mecânica no automóvel, etc —antes de finalizar a transação."
A OLX ressaltou que disponibiliza um botão em todos os anúncios publicados, possibilitando que qualquer pessoa denuncie eventuais práticas irregulares ou conteúdos indevidos. A empresa diz ter uma equipe especializada que atua sobre as denúncias, deletando os anúncios e banindo o mau usuário da plataforma.
"A OLX reitera, ainda, que está sempre à disposição das autoridades para colaborar no que for necessário para a apuração dos fatos", finaliza.