O assassinato de Babacar Niang, 35 anos, senegalês que trabalhava como motorista de aplicativo em Porto Alegre, mobiliza a comunidade do país na cidade para tentar reunir R$ 17 mil necessários para o translado do corpo. Babacar foi encontrado morto na tarde do último domingo (2), no bairro Belém Velho, na zona sul da Capital.
Na manhã desta terça (4), familiares e cerca de 20 amigos do senegalês que moram em Porto Alegre encontraram-se em frente ao Palácio da Polícia, no bairro Azenha, para buscar informações sobre a investigação. O grupo também estava acompanhado de um agente funerário para fazer os trâmites burocráticos para a liberação do corpo.
O irmão de Babacar, Ibra Niang, 30 anos, pretende viajar para o enterro, que deve ocorrer na terra natal da família, na cidade de Watef – distante 150 quilômetros da capital do Senegal, Dacar. Segundo o familiar, está sendo difícil reunir toda a quantia necessária, já que a maioria dos senegaleses que mora em Porto Alegre vive com baixa renda. Ainda assim, considera melhor do que tentar assistência governamental, por haver muitos trâmites.
— Nossos amigos, pessoas que trabalharam com ele, motoristas (do aplicativo com o qual Babacar trabalhava) e a nossa família no Brasil estão nos ajudando a pagar, mas é muito dinheiro. Estamos muito abalados com tudo isso. Meu irmão perdeu a vida trabalhando. É muito triste — lamentou.
Senegalês estava desde 2013 no Brasil
Babacar veio para o Brasil em 2013 tentar uma vida melhor longe da pobreza que assola o país africano. Desde então, trabalhou com várias atividades até surgir a oportunidade com os aplicativos de transporte.
Ele desempenhava a função havia cerca de seis meses, segundo o irmão, dirigindo um Logan alugado. Foi justamente nesse carro que ele foi assaltado, segundo a polícia.
O corpo de Babacar foi encontrado por volta das 14h40min de domingo, na Estrada Antônio Borges, uma via de chão batido entre o Belém Velho e a Lomba do Pinheiro. Havia dinheiro de outras corridas e um celular em um bolso, não levados pelos criminosos.
O carro dele foi encontrado horas depois, no bairro Cascata. A suspeita da Polícia Civil é de que os bandidos tenham atolado o veículo. Depois, um segundo carro foi roubado, mas como possuía corta-corrente, foi igualmente deixado para trás e o restante da fuga foi feita a pé. A polícia ainda não sabe a identificação dos criminosos.
O domingo todo e a madrugada de segunda foram de buscas para amigos de Babacar. Conforme o primo dele, Bara Ndyae, 28, a procura foi incessante, além de um registro de desaparecimento na delegacia do aeroporto Salgado Filho.
Horas depois, um amigo informou que ouviu falar de um senegalês assaltado e de um carro localizado. Ao irem até uma delegacia, já na segunda-feira, foram informados de que ele havia sido vítima de assassinato.
— A delegacia confirmou que ele havia sido morto enquanto trabalhava. Os senegaleses, amigos, primos e conhecidos vão juntar o dinheiro. Não temos apoio do governo brasileiro e talvez tenhamos do Senegal, mas não queremos que o corpo fique esperando muito tempo — comentou o primo.
A investigação
O caso inicialmente foi apurado pelo Departamento de Homicídios. Conforme o diretor da unidade, delegado Eibert Moreira Neto, foi feita uma investigação preliminar e se verificou indícios de um crime patrimonial. Por isso, o assassinato passou a ser investigado como um latrocínio – roubo com morte.
— Ouvimos algumas pessoas e fizemos redistribuição da investigação para a delegacia do bairro. A vítima não tinha antecedentes. Era um indivíduo estrangeiro, legalmente no Brasil, trabalhando regularmente quando foi morto — detalha o delegado.
O caso agora é investigado pela 19ª Delegacia de Polícia, que começou nesta terça a sua apuração.
Contraponto
Pocurada, a Uber se manifestou por meio de nota. Confira o pronunciamento:
Com perplexidade e tristeza, a equipe da Uber teve conhecimento de que Babacar Niang foi vítima de um crime terrível. Neste momento, nossos sentimentos de pesar estão com sua família, amigos e colegas. Continuamos tentando entrar em contato com familiares para oferecer apoio e o acionamento do seguro que protege as viagens realizadas com o aplicativo. A Uber está colaborando ativamente com a investigação da Polícia Civil, fornecendo as informações solicitadas, de acordo com a legislação. Esperamos que o crime seja esclarecido rapidamente e que os responsáveis por tirar a vida de Babacar sejam levados à Justiça sem delongas.