No acesso ao plenário da 2ª Vara do Júri de Porto Alegre, um grupo de anglicanos aguardava no início da manhã desta quinta-feira (6) pelo começo do julgamento sobre a morte de Ilza Lima Duarte, ocorrida em fevereiro de 2008, no centro da Capital. A desconfiança de um grupo de senhoras, amigas da aposentada, morta aos 77 anos, foi essencial para a descoberta de que ela havia sido vítima de um crime.
Três dos cinco réus apontados como autores do assassinato vão a julgamento. O júri deve se estender até sexta-feira (7).
Aos 85 anos, Yolanda Reis é uma das que aguarda pelo resultado da sessão. Ao lado dela, June Kirby e Philip de Lacy, membros da igreja anglicana, também pedem justiça pela morte da idosa, de quem eram amigos.
— É uma luta. Nós sabemos que a justiça de Deus vai acontecer. Nisso meu coração está tranquilo. Mas esperamos também a justiça dos homens — diz Yolanda.
— Ela era muito carente. Acabou sendo vítima — recorda June.
As duas fazem parte do grupo de senhoras que não acreditou na versão inicial, que apontava para morte natural. Acabaram descobrindo pelo laudo da necropsia que Ilza havia sido estrangulada.
Sobrinha de Ilza, Daese Duarte, 65 anos, diz que a tia foi vítima de um crime por motivação financeira. Um casal é apontado pelo Ministério Público (MP) como mandante do crime e três ex-funcionários do prédio onde aposentada morava, como executores.
Paulo Giovani Lemos da Silva, ex-porteiro do edifício, Pablo Miguel Scher, ex-auxiliar de serviços gerais, e Andréia da Rosa, que era empregada doméstica no condomínio, estão sendo submetidos a júri nesta quinta-feira. O casal Maria Fernanda Homrich e Roberto Petry Homrich ainda está recorrendo e deve ser julgado em outro momento.
— É uma angústia que vivemos há 11 anos. Hoje esperamos que seja feita justiça — diz Daese.
Segundo a juíza Cristiane Buzatto Zardo, da 2ª Vara do Júri, a sessão deve se estender até, pelo menos, as 22h desta quinta-feira e será retomada às 9h de sexta.
Após o sorteio dos sete jurados – todos homens –, foram concedidos 30 minutos para que o júri pudesse ler o processo. Em seguida, o julgamento será retomado com o depoimento de duas testemunhas de defesa.
A expectativa é que os três réus sejam ouvidos durante a tarde. Os jurados permanecerão isolados em um hotel até o final do julgamento.
Defesas negam crime
As defesas dos réus se manifestaram pouco antes do início da sessão. Os três negaram que os clientes tenham envolvimento no crime – tese que deve ser sustentada ao longo do julgamento.
Rafael Soto é responsável pela defesa de Pablo Miguel Scher. Ele reafirmou que o cliente é inocente e que isso ficará provado ao longo do júri. Disse ainda que o ex-auxiliar de serviços gerais prestou série de depoimentos e sempre colaborou com o processo.
— Ele nega veementemente qualquer envolvimento nesse crime — disse.
Paulo Dariva, que defende Andréia da Rosa, esposa de Scher, também argumentou que ela não teve qualquer relação com a morte da vítima. Disse que Andréia e o marido somente localizaram o corpo de Ilza no dia seguinte à morte.
— A Andréia estava no condomínio trabalhando. Não tem qualquer participação nos fatos — afirmou.
Já a defensora pública Tatiana Boeira, que representa Paulo Giovani Lemos da Silva, disse que ele estava trabalhando no prédio há menos de um mês, somente cobrindo férias, e que não teve envolvimento no assassinato.
— É um fato gravíssimo. Compreendo o clamor dos familiares por justiça. Mas o Paulo Giovani não teve envolvimento nesse caso. Ele é inocente — disse.
MP sustenta motivação financeira
O promotor André Martinez também falou à imprensa antes do início da sessão. Ele argumentou novamente que o crime foi motivado por questão financeira.
A Promotoria sustenta que o casal Homrich pretendia adiantar o recebimento de cinco imóveis que seriam herdados da vítima. Como Ilza não tinha pais vivos e nem filhos, acabou deixando os vizinhos como herdeiros. O promotor chamou o crime de "execução covarde":
— Queremos que seja feita justiça. Lamentavelmente tarde, 11 anos depois. Mas a prova está sustentada nos autos. Só quem tinha acesso à rotina da vítima poderia ter praticado esse crime. O casal (Scher e Andréia) foi o executor direto, e eles cooptaram o Paulo Giovani (ex-porteiro) para participar dessa execução covarde de uma idosa. A justiça hoje é a condenação — disse.
A esposa de Silva foi a primeira a ser ouvida. Ela negou que o marido tivesse envolvimento com o crime.
— Acredito nele. Que ele não fez — afirmou a mulher.
O relato foi marcado por momentos de tensão entre o promotor e a defensora pública. Por diversas vezes, Tatiana questionou a forma como Martinez estava fazendo perguntas à testemunha.