Seis anos depois, os acusados de matar uma idosa no verão de 2008 estão a caminho do banco dos réus. Por dois votos a um, a 1ª Câmara Criminal do Tribunal de Justiça do Estado (TJ) determinou que cinco pessoas serão julgadas pela morte da ativista da Igreja Anglicana Ilza Lima Duarte, 77 anos.
Conforme a acusação, trata-se de um assassinato encomendado pelo casal de amigos da vítima, o professor universitário Roberto Petry Homrich e a dona de casa Maria Fernanda Corrêa Homrich. Eles herdariam os bens de Ilza - cinco apartamentos - e, por isso, teriam interesse em antecipar a morte da idosa.
A decisão do Tribunal de Justiça é fruto da análise de um recurso da defesa dos cinco réus para evitar o julgamento que tinha sido determinado pela 2ª Vara do Júri, em dezembro de 2012. Os advogados de defesa ainda podem recorrer da decisão.
O episódio ganhou notoriedade pelo inusitado do crime e por controvérsias policiais. Segundo a denúncia do Ministério Público, todos os envolvidos, incluindo a vítima, eram conhecidos e conviviam no mesmo condomínio onde ocorreu o crime, na Avenida Borges de Medeiros, no centro de Porto Alegre.
O casal Maria Fernanda e Roberto Homrich era vizinho e amigo íntimo de Ilza. Os acusados de execução do crime são o ex-porteiro do prédio Paulo Giovani Lemos da Silva e o ex-auxiliar de serviços gerais Pablo Scher. Andréia da Rosa, mulher de Paulo, ex-empregada doméstica de Maria Fernanda, é ré por limpar o apartamento de Ilza após o assassinato.
Aposentada, sem filhos e dedicada a projetos sociais, Ilza foi encontrada morta sobre a cama do quarto no apartamento dela, em 15 de fevereiro de 2008. Aparentemente, tratava-se de uma morte natural. Uma ocorrência chegou a ser registrada na 1ª Delegacia da Polícia Civil (Centro) de Porto Alegre, que fica perto da casa onde a vitima morava, relatando como causa acidente vascular cerebral (AVC).
Caso foi investigado um mês após a morte
O cenário da morte - sangue no travesseiro, tapetes desalinhados, vasos caídos e chinelos espalhados - intrigava senhoras anglicanas, amigas de Ilza. Um mês depois, quando as religiosas tiveram acesso a uma cópia da certidão de óbito, atestando morte violenta por estrangulamento, eles correram para o Palácio da Polícia Civil, e o caso virou tarefa para a Delegacia de Homicídios resolver.
Atitudes estranhas como a do porteiro, que após o crime nunca mais apareceu para trabalhar, e o fato do casal herdeiro não ter ido ao enterro de Ilza, levantaram suspeitas.
O delegado designado para o caso, Bolívar Llantada, negou aos investigados acesso ao inquérito, criando um mal-estar para a corporação, e foi substituído pela delegada Vanessa Pitrez Corrêa. A polícia buscou provas durante quase dois anos - inclusive obteve a confissão dos dois executores - que resultaram no indiciamento dos cinco envolvidos, depois denunciados pelo Ministério Público e pronunciados pela 2ª Vara do Júri da Capital. Após a denúncia, os dois executores foram presos preventivamente por cerca de dois meses. O casal Homrich, que ficou preso por 24 horas, renunciou à herança.
OS RÉUS
- Roberto Petry Homrich, 51 anos, professor universitário, é acusado de ter planejado a morte de Ilza. Estava em Pelotas no dia do crime e sempre negou envolvimento no caso.
- Maria Fernanda Corrêa Homrich, 51 anos, dona de casa, é acusada de ter planejado o crime com o marido. Estava em vigem com Roberto no dia do crime, e sempre negou envolvimento no caso.
- Pablo Scher, 35 anos, ex-auxiliar de serviços gerais do condomínio, é acusado de ter sido contratado pelo casal para matar a idosa em seu apartamento. Admitiu à polícia ter esganado Ilza com ajuda de Paulo, atendendo pedido de Maria Fernanda. Em troca, Scher disse que receberia de presente um dos apartamento que seria herdado pelo casal. Em depoimento à Justiça, negou a autoria do crime.
- Paulo Giovani Lemos da Silva, 39 anos, ex-porteiro do prédio onde a aposentada morava, é acusado de ser um dos executores do crime. Sumiu do condomínio após a morte de Ilza. Exame de DNA apontou que foram encontrados pelos dele na cama da vítima. Declarou à polícia que foi convidado por Scher para um serviço no apartamento de Ilza, mas disse ter fugido quando viu que Ilza seria morta. Receberia entre R$ 2 mil e R$ 3 mil de Scher. Em depoimento à Justiça, negou a autoria do crime.
- Andréia da Rosa, 30 anos, doméstica do casal Homrich, casada com Pablo, é acusada de ter limpado o local do crime após a execução da vítima. Ao depor, se manteve em silêncio.
CONTRAPONTOS
Jader Marques, defensor de Maria Fernanda e Roberto Homrich
Entrará com novo recurso no TJ, os chamados embargos infringentes. Ele pedirá a impronúncia dos clientes. Como argumento, Marques pretende reproduzir as palavras de um dos desembargadores, que acolheu o pedido da defesa, mas cujo voto foi vencido no julgamento do recurso no TJ. No acórdão, o magistrado classificou o inquérito de nebuloso e confuso.
Tatiana Kosby Boeira, defensora pública que responde pelos réus Paulo Giovani Silva, Pablo Scher e Andréia da Rosa
Existem nulidades no processo e que serão encaminhados recursos, inclusive para tribunais superiores.
A VÍTIMA
Secretária de escola aposentada e sem filhos, Ilza Lima Duarte morava sozinha no centro de Porto Alegre, em um de seus cinco apartamentos. Solteira, ela atuou em entidades ligadas à Igreja Anglicana e se dedicava a projetos sociais vinculados à comunidade religiosa. Antes de morrer, tinha alterado seu testamento, colocando o casal Homrich como herdeiros dos seus imóveis.