Com a voz serena de quem escolheu não sentir rancor, Ereni Bernardes, 62 anos, diz esperar que os criminosos responsáveis por arrebatar seu companheiro de quatro décadas possam mudar para melhor. O taxista Sérgio Jaime Bernardes, 64 anos, sumiu no entardecer de 28 de março, em Rolante e foi levado até Portão, no Vale do Sinos, onde foi morto.
A polícia acredita que o corpo carbonizado, encontrado em Canoas na segunda-feira (8), seja dele. Quatro suspeitos de envolvimento no crime foram presos.
— Esperamos que possam ser tocados pela luz de Deus, que se tornem pessoas melhores. A justiça que lhes convém será feita. Não temos essa mágoa, não temos rancor. Nosso coração está calmo. Simplesmente nos entristece saber que as pessoas cometeram tamanha injustiça — resumiu.
Sem notícias do marido há mais de uma semana, Ereni diz que a constatação da polícia de que Sérgio não permaneceu dias em cativeiro, de certa forma, trouxe-lhe alívio. Os policiais acreditam que ele foi morto cerca de meia hora depois de chegar em uma casa, no bairro Estação, em Portão.
— Nos preocupávamos muito com o sofrimento que poderia estar acontecendo com ele, por tantos dias. Tínhamos praticamente certeza que ele não estaria mais vivo — disse.
A costureira aposentada afirmou ainda que a informação divulgada pela polícia de que o taxista não era o alvo dos criminosos também conforta os familiares. Segundo o delegado Vladimir Medeiros, os traficantes pretendiam levar outra pessoa, mas interceptaram o taxista.
— Ele era uma pessoa do bem. Não tinha culpa nenhuma.
A esposa lembrou que Sérgio estava feliz no último dia em que estiveram juntos. Os dois riram, como costumavam fazer. Bernardes levou uma cuca para Ereni durante a tarde e depois saiu pelo portão, comendo um pedaço do doce, prometendo retornar à tardinha para fazer o jantar com a filha. O casal tem dois filhos: Maiara Bernardes, 29 anos, e Daltro Bernardes, 36.
— Ele foi com seus 64 anos. Estávamos felizes. Só podemos agradecer o tempo que estivemos com ele. Ele vai ficar bem, onde quer que esteja.
A família planeja um culto ecumênico em memória do taxista. Quando os restos mortais forem liberados, após análise da perícia, pretende encaminhar para cremação e depositar as cinzas junto ao túmulo da mãe de Bernardes.
Operação para prender suspeitos
A Polícia Civil realizou operação, na manhã desta terça-feira, para prender suspeitos de envolvimento no desaparecimento do taxista. Segundo a corporação, um dos presos na ofensiva confessou ter enterrado o corpo da vítima em Portão, no Vale do Sinos.