Três dias antes do assalto a uma joalheria em Estância Velha, no Vale do Sinos, que resultaria na morte de pai e filho, dois suspeitos do crime procuraram uma barbearia, em São Leopoldo, para alterar a aparência. Cortaram os cabelos e pigmentaram a barba, num tom mais escuro. Para a Polícia Civil, era uma das etapas de um plano para tentar atacar o estabelecimento e não serem identificados, mesmo sem cobrir o rosto. Os dois tiveram prisão preventiva decretada pela Justiça e estão foragidos.
O assalto à loja foi registrado pelas câmeras de vigilância do local, o que permitiu à polícia perceber outras características, que levaram à identificação da dupla. Pelo vídeo, segundo o delegado Márcio Niederauer, foi possível perceber que a mão esquerda de um dos criminosos apresentava uma coloração diferente. Para o policial, o assaltante tentou maquiar as tatuagens para dificultar seu reconhecimento. Ele também usava um falso óculos de grau.
Esse criminoso, de camisa rosa, que permaneceu junto ao balcão, foi identificado pela polícia como sendo Rafael Santos Domingues, 19 anos. Ele era morador da Vila Brás, em São Leopoldo, mesmo local onde fica a barbearia que a dupla procurou antes do assalto. Ele não possui antecedentes criminais — no entanto, há a suspeita, segundo a Polícia Civil, de que teria envolvimento com o tráfico de drogas. Um dia após o crime, deixou o bairro.
O outro assaltante, de óculos escuros e camiseta preta, foi identificado como Davi dos Santos Mello, 20 anos. Ele teria sido responsável por render pai e filho, em área aos fundos da loja. Após um disparo, Leomar Canova, 59 anos, e Luis Fernando Canova, 35 anos, reagiram ao crime e acabaram sendo mortos. Os disparos, segundo Niederauer, foram efetuados pelos dois criminosos.
Mello residia no bairro Santo Afonso, em Novo Hamburgo, que fica próximo da Vila Brás. Ele possui condenação por um roubo de veículo em São Leopoldo, ocorrido em 2017. Segundo a Polícia Civil, ele estava em regime aberto e deveria estar usando tornozeleira eletrônica. A polícia não descarta que os assaltantes tenham usado outras formas de disfarce, incluindo nariz falso. Sobre o vínculo entre os dois, a polícia sabe que eles eram amigos. A polícia apura ainda se havia mais algum comparsa no crime, responsável por vigiar a loja ou por conduzir o veículo usado na fuga.
Os bandidos escaparam com as joias roubadas, avaliadas em cerca de R$ 350 mil. Uma das suspeitas é de que eles possam estar escondidos em outro Estado. Informações sobre o paradeiro dos foragidos devem ser repassados à Polícia Civil, pelo 197.
— É um delito grave, que a polícia conseguiu chegar à autoria em menos de uma semana. Nosso intuito agora é que sejam encontrados e presos — afirmou a chefe da Polícia Civil, Nadine Anflor.
Mãe reconheceu filho em vídeo de assalto
Na busca pelos autores do crime, a Polícia Civil montou uma força-tarefa para o caso. A investigação recebeu nome de Operação Inquietação, por conta da repercussão do caso e das buscas realizadas nos bairros onde os suspeitos residiam. Segundo o delegado Eduardo Hartz, a polícia chegou à identificação da dupla dois dias após o crime, em 12 de abril. Foram recebidas mais de cem denúncias sobre possíveis envolvidos no crime.
Um dia antes de serem identificados, no entanto, eles já haviam deixado os locais onde residiam em Novo Hamburgo e São Leopoldo. As fotos divulgadas pela polícia durante coletiva de imprensa nesta segunda-feira (22) foram retiradas das redes sociais dos dois. As contas foram apagadas após o crime.
Foram pedidos mandados de prisão temporária e de busca e apreensão. No dia 14 de abril os mandados foram deferidos pela Justiça e na segunda-feira, dia 15, foram feitas novas buscas. Os depoimentos colhidos durante essa ação, inclusive de familiares, permitiram à polícia pedir que as prisões fossem convertidas em preventivas.
Segundo Eduardo Hartz, delegado regional do Vale do Sinos, um dos depoimentos importantes foi o da mãe de Mello, que reconheceu o filho nos vídeos do assalto.
— Ela nos disse: "Este no vídeo é o meu filho". Não tem uma mãe que não possa reconhecer o seu filho — afirmou o delegado.
Veículos abandonados
Na fuga da joalheria os criminosos usaram um Honda City, roubado em Porto Alegre, que estava com placas clonadas. O mesmo carro teria sido utilizado em outro roubo, em Teutônia. Uma das suspeitas é que o automóvel pertença a uma facção criminosa. Dentro do veículo, que foi abandonado pelos bandidos na Rua Ceará, em Novo Hamburgo, por volta das 12h, foram encontrados óculos e roupas.
No mesmo dia do assalto, também foi encontrado um Focus, na BR-116, em São Leopoldo. Dentro dele havia um telefone celular, que está sendo analisado. O dono do aparelho foi identificado, mas até o momento não é considerado suspeito do latrocínio. Imagens de câmeras próximas mostraram três homens saindo correndo do veículo, um deles de camisa rosa. Segundo o delegado Niederauer, a polícia apura se esse veículo tem envolvimento com o caso de Estância Velha.
— Existe essa possibilidade, mas ela não foi confirmada. É possível que não tenha vínculo com esse crime — afirmou.