A expressão "clínica geral" é comum entre policiais que atuam sozinhos. São 93 delegacias nesta situação no Estado — ano passado, eram 77 DPs apenas um servidor. É usada por uma servidora da Serra, que viu colegas serem transferidos ou se aposentarem.
— Só atende as ocorrências, as pessoas. Aqui não se investiga. Um furto, para a vítima, é importante. Quer correr atrás, mas não tem como — diz um agente da Região Central.
É comum servidores administrativos, estagiários ou quem trabalha na limpeza atender o telefone. Em somente uma das unidades, o delegado substituto estava presente durante o telefonema da reportagem.
— Só tem um policial e está de férias. Vem outro uma vez por semana — diz um servidor administrativo da Serra.
No Noroeste, um policial se divide entre duas delegacias. Atende três dias em uma e dois em outra.
— Muitas vezes, as delegacias são prédios locados, sem visibilidade de quem chega na porta — reclama.
A situação virou motivo de estudo, que deve ficar pronto em cerca de 15 dias. A Polícia Civil está mapeando as unidades para identificar quais poderiam ser fechadas. A medida encontra opiniões controversas entre os policiais, representantes da categoria e prefeitos.
O que pensam os servidores
— A delegacia tem papel social. Numa cidade pequena tudo é na DP. Separação, divisão de terras, pensão alimentícia. A gente precisa orientar as pessoas quando não sabem a quem recorrer — diz servidor da Região Noroeste.
— Como vai sair para fazer investigação? Atender ocorrência, intimar? Precisa de material humano. Caso não, oferece risco para o policial e para os demais. Preciso empregar maior força para evitar me colocar em risco, por exemplo — afirma policial da Região Noroeste.
— Na academia (de polícia) a gente trabalha com a unidade policial, em uma viatura ou uma delegacia. Infelizmente não é nossa realidade. A maioria da população não tem nem carro para se deslocar até outra cidade — lamenta um funcionário da Serra.
— Por que o Estado mantém essas delegacias? A cidade tem demanda para ter delegacia sim, mas o trabalho fica prejudicado. Não é o que nos ensinam na academia. A supremacia numérica na prática não funciona — afirma outro, que atua na Região Central.
— Seria péssimo fechar. As delegacias maiores ficarão sobrecarregadas. Imagina quem tem de registrar e precisa esperar ônibus. Como combater o crime fechando delegacias? Sem policiamento, vai combater? — questiona servidor da na Região Central.
— Acho melhor fechar. Ficar numa delegacia maior, com uma equipe. Hoje é um risco ficar sozinho. Tu não sabe quem vai entrar pela porta da frente. E tu vai fazer o quê? Sair correndo? Porque sozinho não se faz nada — enfatiza outro, que também atua no Centro do RS.
— Atendo cerca de mil ocorrências ano. É muito? É. Mas fechar a delegacia? Não é por aí. Temos crimes graves, como estupros de crianças, Maria da Penha. Ano passado teve dois assaltos a bancos — ressalta um policial da Região Central.
— Sou favorável a fechar, iriam economizar. Mas esbarra na política, os prefeitos não querem. Tem delegacia que tem um pingo de ocorrências e segue aberta, gerando custos e contra a violência dá pouco resultado — diz funcionário da Região Norte.