— Vieram para a delegacia? — indaga dona Onira Morandi, 79 anos, ao ver o carro da reportagem estacionar em frente ao prédio da Delegacia de Maximiliano de Almeida, bem ao lado de sua casa. A DP é uma das 77 unidades no Estado onde só há um policial trabalhando.
Curiosa com a movimentação, assim como outros moradores dos arredores, Onira caminha com a cuia na mão. Quando busca o nome no crachá, sorri:
– Ah, não, é da reportagem.
Poucos minutos antes, tinha saído para atender um morador que procurou a delegacia para registrar uma ocorrência e encontrou as portas fechadas.
Durante todo o mês de fevereiro, quando a servidora está de férias e precisa ser substituída, o atendimento só ocorre nas terças e quintas-feiras à tarde. É o que avisa o cartaz colado na porta, atrás de uma grade, uma corrente e um cadeado. No restante do tempo, a DP permanece fechada e a viatura pode ser vista estacionada na garagem. Seu Ferdinando, 84 anos, marido de Onira há mais de 60 anos, como ela frisa, também se aproxima bem-humorado.
— Quase todo dia vem um aqui querer procurar papel, documento. Esses dias um refém queria que eu atendesse. Acho que vou assumir a delegacia de vez — diverte-se.
Do outro lado do prédio, um morador faz graça ao ver o tripé da câmera na calçada:
— Estão medindo a distância que o policial está daqui?
“Em caso de urgência, procure a BM”
Mas, para quem precisa do atendimento, as portas fechadas não são encaradas com bom humor. Olga Barbosa, 62 anos, encontrou mais uma vez o prédio fechado ao tentar procurar informações sobre o andamento de um registro. No ano passado, após mais um ataque a bancos na cidade, participou de um protesto pedindo mais segurança. Sem resultados, está indignada:
— Não é possível a cidade ter atendimento só duas vezes por semana. É como uma cidade sem lei.
A realidade de Maximiliano é a mesma de outras cidades. Durante as férias dos colegas, policiais relatam que é comum ter de se dividir entre mais de uma delegacia. Quando precisam sair, tentam improvisar. “Já volto”, avisa a plaquinha que uma agente do Noroeste coloca na porta. “Em caso de urgência, procure a BM”, diz outro policial.
— Aqui não tem estagiário, não tem nada. Deixo um aviso na porta e meu telefone. As pessoas vêm de outros municípios e não tem ninguém. Dão com a cara na porta. Como vão entender? – conta um agente.
Em uma DP da Serra, quem atende o telefone é a funcionária da limpeza.
— Ele (policial) é sozinho. Está em diligência. Quando sai, atendo o telefone — disse à reportagem.