As águas do Rio Uruguai separam Itapiranga, em Santa Catarina, e Barra do Guarita, no noroeste do Rio Grande do Sul. Moradores cruzam a divisa em balsas e barcos lotados. Do lado gaúcho, quem precisa recorrer à delegacia pode deparar com as portas fechadas. O município é um dos 93 que contam com apenas um policial civil no Estado. O levantamento de GaúchaZH mostra aumento de 21% em relação ao ano passado.
Durante as férias do único policial civil em Barra do Guarita, o atendimento ocorre duas vezes por semana. Numa quarta-feira, Jeferson da Silva, 32 anos, aguardava junto à entrada.
— Queria saber se posso registrar uma ocorrência. Mas chego aqui e não tem ninguém. É um descaso com as pessoas que precisam — reclama o pedreiro.
Em frente ao prédio, o prefeito Rodrigo Locatelli reclama da falta de servidores e promete investir em tecnologia. No município, as ocorrências mais comuns são furtos e brigas.
— É a entrada do Estado. Estamos lutando para mostrar as autoridades que precisamos de mais servidores. Para o ano que vem, temos projeto de implantar câmeras — afirma o político.
Em Caiçara, no Noroeste, município com cerca de 8 mil habitantes, as vias têm nomes de países. Na Rua Canadá, está localizada a delegacia. O imóvel ocupa metade da quadra.
— Que horas abre a delegacia? — questionamos a um morador.
— Às 13h30min, quando abre — responde o idoso.
Já são 15h, e o prédio segue fechado. Fixado no portão trancado com cadeado, um cartaz avisa para contatar outra delegacia. Junto à porta, outro comunicado indica que o local é vigiado por câmeras. Nos fundos, uma viatura acumula poeira na garagem.
— Quando precisa tem de ir até Frederico Westphalen (a 10 quilômetros) ou Vicente Dutra (a 18 quilômetros) — conta o funcionário público Cristiano Andreola Frizon, 29 anos.
Realidade igual vive Alegria, onde a delegacia também precisa ficar fechada. "Motivo: férias do policial", alerta cartaz improvisado, colado à porta de ferro azul. A orientação é procurar a equipe de Três de Maio, a 27 de quilômetros dali, parte do trecho por estrada de chão.
— O policial tem de cobrar escanteio e cabecear na área. Tem de manter esse pessoal mais tempo, não podem se aposentar tão cedo, ou o Estado não dá conta — defende o morador Jorge Luiz Jost, 70 anos.
O comerciante Auri Pedro Griebler, 55 anos, diz que casos de assaltos a estabelecimentos de Alegria deixaram a comunidade assustada.
— Não tem polícia suficiente, e quem sofre é o morador —reclama.