Por 11 meses, Agileu Trentin, 72 anos, buscou Justiça e solução para o desaparecimento da filha Sandra Mara Lovis Trentin, 48 anos. A contadora, que morava em Boa Vista das Missões, na Região Noroeste, desapareceu na manhã de 30 de janeiro ao seguir até o município vizinho, Palmeira das Missões. Na noite de Natal, hospitalizado há cerca de um mês, em Cruz Alta, o idoso não resistiu e morreu. Agora, com a localização de restos mortais, que possivelmente são da filha, a família espera conseguir atender o desejo do pai: sepultá-la junto a ele.
Os familiares aguardam o retorno do Instituto-Geral de Perícias (IGP), responsáveis por fazer os exames na ossada encontrada na segunda-feira (21). O cadáver estava enterrado em uma cova rasa, dentro de uma área de mato e perto de uma lavoura, às margens da BR-158, a 24 quilômetros do centro de Palmeira das Missões.
Segundo o IGP, são necessários em torno de 10 dias para realização da perícia e conclusão do laudo oficial. O instituto diz que o caso está sendo tratado com prioridade, mas envolve análises de DNA e da arcada dentária. Somente após o prazo, os restos mortais poderão ser liberados para sepultamento, caso seja confirmado que pertenciam a Sandra.
Embora esperem pela perícia, para os familiares a identificação de objetos pessoais e das roupas leva a crer que se trata mesmo da contadora.
— A perda nós já vínhamos sentindo há um ano. De certa forma foi um alívio — conta o filho Romulo Trentin, que fez o reconhecimento dos pertences de Sandra.
Foram encontrados junto aos restos mortais uma carteira, cartões bancários, de saúde e de lojas, todos em nome de Sandra, além das roupas que a contadora vestia quando sumiu e da aliança de casamento.
O corpo de Agileu, que sofria de câncer de pulmão, foi velado em Vila Trentin, comunidade no interior do município de Jaboticaba e sepultado no cemitério de Boa Vista das Missões. O mesmo deve acontecer com a filha. Junto ao túmulo dele foi preparada outra sepultura, para receber os restos mortais de Sandra.
—A sensação é de grande alívio e ao mesmo tempo de tristeza. A Sandra sempre foi uma grande amiga e irmã. Saber que ela não está mais junto de nós dói imensamente, mas agora ela terá um sepultamento digno e um cantinho onde vamos poder guardá-la com amor, junto do pai. Antes de partir, o pai já havia deixado o lugarzinho dela ali, preparado — relata a irmã de Sandra, Cátia Denise Lovis Trentin.
Em agosto do ano passado, seu Agileu publicou em sua página no Facebook uma foto dele com as filhas e escreveu: "Esta foto judia muito o velho. Nunca mais poderei abraçá-la novamente filha amada, mas se alguém quiser visitar você pode ir ao meu túmulo quando eu me for porque você estará sempre no meu coração."
— O pai foi em busca da sua filha e encontrou. Ele nos devolveu ela, demonstrando que o amor realmente vai além da vida. Segue uma saudade imensa e um amor que não se acaba. Creio em Deus e na justiça, espero que aqueles que fizeram essa crueldade sejam realmente punidos — diz a irmã.
O marido de Sandra, o vereador Paulo Ivan Landfeldt, é acusado de ter sido o mandante do crime e Ismael Bonetto, que está preso, como o executor. Para o promotor Marcos Eduardo Rauber, a localização da ossada só confirma que a contadora está morta e foi vítima de um assassinato. A blusa que ela usava tinha uma marca no centro, que indica que pode ter levado um tiro no peito. Isso será confirmado pela perícia.
O processo aguardava somente decisão do juiz de enviar ou não os réus para júri por homicídio qualificado e ocultação de cadáver. Bonetto ainda responde pela extorsão contra o vereador. Se houver confirmação de que o corpo pertence a Sandra, o processo poderá receber complementações, já que tanto defesa como acusação usaram argumentos que envolvem o fato de que nenhum cadáver havia sido localizado.
Relembre o caso
O marido de Sandra chegou a ficar preso por quatro meses, mas nega envolvimento no caso. A Promotoria acusa Landfeldt de ter encomendado o assassinato da mulher por conta de uma relação conturbada e para evitar a partilha dos bens em caso de separação.
Já Bonetto segue preso em Palmeira das Missões, desde fevereiro do ano passado. Em primeiro depoimento, o rapaz confirmou que matou Sandra com um disparo no peito em troca de pagamento feito por Landfeldt. Uma semana depois, ele voltou atrás na versão, negou o crime e o envolvimento do político. Bonetto diz que apenas extorquiu o marido da contadora mentindo ter informações sobre o paradeiro dela.