Uns pensaram que eram fogos de artifício, outros entenderam logo que boa coisa não era... Na dúvida, ninguém ficou parado. O atentado que matou três pessoas e feriu outras três, na madrugada deste sábado (26), provocou pânico e correria no coração do bairro mais boêmio de Porto Alegre, a Cidade Baixa. A rua João Alfredo, palco dos tiros, estava em pleno fervo, apesar do avançado da hora: 3h30min. Mesmo com os bares já fechados, uma multidão permanecia junto às calçadas ou mesmo entre os carros, bebendo, fumando, conversando e namorando. Foi quando os disparos vieram, em sequência.
- Foi pá, pá, pá, pá...parecia uma metralhadora, os sujeitos não paravam. Eu estava comendo um churrasquinho, do lado do primeiro a levar tiro. Dei um salto para o lado e corri feito louco - descreve André Mendonça, 18 anos, frequentador da João Alfredo "quase todas as noites".
Matheus Müller, amigo dele, relata que uma garota foi atingida quase no mesmo momento que o alvo principal, que seria um homem negro e corpulento. Os três atingidos foram identificados como Salmeron Bartz Costa, 28 anos, Roger Abreu de Oliveira, 24 anos, e Cassiane Alves Rocha, 21 anos. Ela é a única que não tinha antecedentes criminais.
Oliveira tinha antecedentes em ocorrências criminais por lesão corporal, tráfico, roubo e homicídio. Salmeron tinha por homicídio, roubo, receptação de veículo roubado, tráfico, posse ilegal de arma e lesões corporais.
Os matadores estariam atrás de Salmeron Costa: o chamaram pelo nome antes de atirarem. Foram pelo menos 15 disparos. E então começou o pânico. Testemunhas relataram a GaúchaZH que, como uma onda, a multidão se dispersou em correria. Um dos feridos ainda pedia ajuda, murmurando. Um dos jovens e a garota caíram sem se mexer, mortos no ato. Policiais militares que fazem o patrulhamento da Cidade Baixa correram para o local, armas em punho, mas os atiradores já tinham fugido. Os PMs usaram viaturas para levar os feridos ao HPS e, depois, formaram um cordão de isolamento que bloqueou a rua João Alfredo, entre a Lopo Gonçalves e a Rua da República.
Muitos clientes de bares e boates continuaram dentro dos estabelecimentos e só descobriram que tinha ocorrido uma sucessão de tiros quando saíram para a rua e depararam com dezenas de policiais. Um dos que foi surpreendido é José Henrique Azevedo, ex-dono do bar situado em frente ao local dos disparos. Ele ajudava os atuais proprietários a fecharem o borderô quando ouviu os tiros. Todos decidiram permanecer dentro.
- Quando abri a porta do bar tinha um morto encostado nela - relata, impressionado.
Corpos na calçada até o amanhecer
Os corpos permaneceram na calçada, na posição em que se encontravam, para que fosse feita perícia. Os exames foram concluídos por volta das 5h50min, mais de duas horas após o tiroteio. Só então a multidão, que permanecia de olhos arregalados na João Alfredo, começou lentamente a se dispersar.
Uma mulher chegou correndo e chorando, por volta das 5h. Ela disse que é vendedora e foi avisada do tiroteio.
- Me deixa ver, acho que mataram minha filha - gritava.
Policiais civis a conduziram para ver o corpo da garota assassinada. Ela não teve certeza se era sua filha.
Policiais que investigam o caso, ouvidos por GaúchaZH, falam que o atentado visava desmoralizar traficantes do conjunto residencial Princesa Isabel (na Azenha), que controlam parte do tráfico na Cidade Baixa. A suspeita é que os atiradores sejam de um grupo de Alvorada interessado em ingressar no mercado das drogas na área mais boêmia de Porto Alegre.