Após o médium João de Deus, 76 anos, se entregar às autoridades na tarde de domingo (16) em encontro combinado às margens da BR-060, na zona rural de Abadiânia (GO), o advogado Alberto Toron concedeu entrevista aos jornalistas presentes em frente à Delegacia Estadual de Investigações Criminais, em Goiânia (GO), para onde o médium foi conduzido.
O advogado questionou, sobretudo, o uso de prisão preventiva no caso do seu cliente, prometendo impetrar um hábeas corpus já nesta segunda-feira (17).
— Prisão preventiva não é uma prisão para punir. Isso só se dá após julgamento, com acusação, defesa, testemunhas... (A prisão preventiva) é para evitar que uma pessoa venha a fugir, ameaçar testemunhas. Para evitar que novos delitos ocorram. Por isso eu chamo a atenção para o fato de que se ele ficar trancado em casa com uma tornozeleira, você impede em tese a ocorrência de novos delitos, se é que ocorreram, e, mais do que isso, tem uma vigilância que impede qualquer hipótese de fuga — declarou o advogado.
Sobre o argumento de que a movimentação de R$ 35 milhões das contas do médium poderiam indicar uma tentativa de fuga, o advogado declarou que o seu cliente não sacou, mas "simplesmente baixou as aplicações para fazer frente às necessidades dele".
— Ninguém saca R$ 35 milhões. Isso que se reportou de que poderia ser um dinheiro para ele fugir cai por terra quando ele se apresenta. E é importante dizer que ele não estava fora do Estado, ele estava nas cercanias de Abadiânia — argumentou o advogado.
Toron declarou ainda que os depoimentos sobre o médium precisam ser escrutinados antes de qualquer julgamento.
— Que não se faça um linchamento assim como se fez no caso da Escola Base — declarou o advogado, em referência ao caso de 1994 em que administradores de uma creche foram acusados injustamente de abusar de crianças.
Questionado sobre as denúncias, o advogado enxergou "estranheza" em alguns relatos:
— Vejo com estranheza fatos ocorridos há 30 anos serem trazidos agora. E fatos graves, mas a mulher voltou uma, duas, três vezes... Então, em respeito a essas mesmas pessoas, a essas mesmas mulheres, nós devemos fazer a investigação com todo o cuidado.
Se ele (João de Deus) ficar trancado em casa com uma tornozeleira, você impede em tese a ocorrência de novos delitos, se é que ocorreram, e, mais do que isso, tem uma vigilância que impede qualquer hipótese de fuga
ALBERTO TORON
advogado de João de Deus
O delegado-geral de Goiás, André Fernandes, informou que João de Deus será levado para o Complexo Prisional de Aparecida de Goiânia, denominado Núcleo de Custódia, onde será interrogado ainda na noite de domingo (16) com base em 15 depoimentos coletados de mulheres que denunciaram diversos crimes sexuais. De acordo com o delegado, será um interrogatório longo. Cada caso será questionado separadamente, o que deve levar horas. Após depor, ele passará a noite no local.
Após o depoimento de mulheres ao programa Conversa com Bial, da TV Globo, relatando múltiplos casos de abuso sexual com características semelhantes, uma força tarefa foi montada pelo Ministério Público dos Estados. Mais de 330 relatos foram reunidos em diferentes estados do país. Cinco mulheres ouvidas por GaúchaZH contaram episódios ocorridos entre 2008 e 2012, no Rio Grande do Sul e em Abadiânia. Mulheres que se dizem vítimas também se apresentaram em seis países.
João de Deus atende cerca de 10 mil pessoas por mês, das quais 40% são estrangeiras. Os abusos teriam sido cometidos depois do atendimento espiritual feito pelo médium. As mulheres relatam que, depois do atendimento em grupo, eram convidadas para uma consulta individual, onde os abusos seriam cometidos. O Ministério Público afirma ainda que quatro funcionários são suspeitos de ter envolvimento nos crimes.
Com informações de Estadão Conteúdo.