Em ação conjunta contra o tráfico de drogas, envolvendo mais de 500 agentes, a Polícia Civil e a Brigada Militar bloquearam, na manhã desta sexta-feira (30), os principais acessos a duas grandes comunidades da zona leste de Porto Alegre: a Vila Maria da Conceição e o Campo da Tuca. Policiais também agiram em endereços da Vila Resvalo e nos bairros Restinga, Cascata e Glória, mas sem bloqueios.
Foram realizadas buscas em 57 residências e bares suspeitos de funcionar como bocas de fumo e esconderijo de criminosos. Foram procuradas também 20 pessoas supostamente envolvidas em tráfico e homicídios, cujas prisões temporárias foram decretadas pela Justiça. Até as 9h30min, 14 pessoas haviam sido detidas.
Os policiais usaram viaturas, helicópteros e cães farejadores nas buscas. A investigação foi conduzida pelo Departamento de Investigações do Narcotráfico (Denarc), da Polícia Civil, que denominou a ação de Operação Dama da Noite.
O nome faz alusão à cocaína de tipo "Viviane", que teria alto grau de pureza, coloração amarelada e aroma de baunilha, famosa por gerar grande rentabilidade aos traficantes e atrair legiões de usuários. O apoio no cerco é feito pelo Batalhão de Operações Especiais (BOE) da BM.
As investigações e os monitoramentos começaram em 2015 e foram tocadas pela 2ª Delegacia de Investigações do Narcotráfico, do Denarc. Os policiais, por meio de campanas, obtiveram diversos flagrantes de tráfico feito a céu aberto, em locais de comércio e, também, registraram em filmagens tiroteios travados pelas diversas facções que tentam o domínio dessas regiões de periferia.
O Denarc monitorou mais de 12,4 mil telefonemas e mensagens de WhatsApp trocadas pelos suspeitos desde 2015. O principal alvo das investigações era João Carlos da Silva Trindade, o Colete, que acabou assassinado em 23 de agosto de 2017, quando já era investigado pelo Denarc.
Colete foi uma das vítimas da violenta disputa pelo poder na vila Maria da Conceição e no Campo da Tuca após a prisão dos "patrões" do tráfico nesses bairros. Paulo Ricardo Santos da Silva, o Paulão, mandava na Conceição, enquanto Juraci Oliveira de Souza, o Jura, era o líder dos traficantes da Tuca. Os dois continuam presos desde 2010, por homicídios.
Conforme o delegado Mário Souza, do Denarc, gerentes do tráfico que atuavam para os dois líderes presos articularam uma espécie de "golpe de estado", se articulando com outros grupos para a tomada de poder.
Nesses quatro anos de investigações, o Denarc constatou duas frentes de batalha na Conceição e na Tuca. Uma delas é interna, envolvendo remanescentes dos bandos de Paulão e Jura. A outra é desses antigos gerentes contra a facção considerada a mais violenta do Rio Grande do Sul, com sede no bairro Bom Jesus, que tenta tomar as bocas de fumo que pertenciam aos dois líderes do tráfico presos desde 2010.
Além de Colete, a guerra matou outro gerente do tráfico na Conceição, Adão Adilson Ferreira da Silva. Após a morte do patrão, Adão foi preso em novembro de 2016 pelo Denarc. Libertado no ano seguinte, ele foi emboscado por grupos rivais em setembro de 2017, na própria vila onde se criou.
Ao longo das investigações, o Denarc apreendeu mais de 100 quilos de maconha destinada a abastecer os pontos de tráfico na Maria da Conceição. Os agentes também constaram a adoção de um sistema de "drive-thru" de venda de cocaína e maconha por parte dos traficantes daquela vila.
As investigações se expandiram para localidades como Restinga, Vila Cruzeiro, Vila Resvalo, Campo da Tuca, Cascata e Glória, devido à fragmentação da quadrilha e também às guerras envolvendo grupos rivais, ligados a essas regiões. A apuração foi chefiada pelo delegado Tiago Lacerda, que destaca:
— Foi complexo e, por isso, o trabalho atinge muitos bairros.
O delegado Mário Souza, chefe do Denarc, diz que existem relatos de moradores que teriam sido expulsos de suas residências por conflitos entre quadrilhas, e isso também é objeto da operação.
— Vamos focar nos autores das extorsões aos moradores, que acabam tendo de pagar aluguel aos traficantes.
O delegado ressalta que o trabalho só ocorre porque envolveu troca de informações com o setor de inteligência do Comando de Policiamento de Capital (CPC) da BM, que ajudou no monitoramento das bocas de fumo.