
Traficantes internacionais podem ser tudo, menos burros. Grande parte do sucesso de uma operação de contrabando de drogas depende das horas gastas com métodos engenhosos de disfarçar a encomenda. É o caso da megaquadrilha desarticulada na Operação Planum, que a Polícia Federal desencadeou na manhã desta quinta-feira (29). Os criminosos com atuação no Rio Grande do Sul exportavam a cocaína, originária da Bolívia, para a Europa... dentro de blocos de granito, mármore e outras pedras usadas em construções de luxo.
Conversei com policiais federais envolvidos e também com veteranos nesse tipo de investigação. É possivelmente o maior esquema de exportação de droga e lavagem de dinheiro já desarticulado desde que, em 1993, a mesma PF desmantelou uma organização criminosa usava o Vale do Sinos como trampolim para enviar entorpecentes à Europa. O mesmo método descoberto agora e que envolve outra quadrilha.
A diferença é que os bandidos do Vale do Sinos envolviam a cocaína em fardos de couro e sapatos exportados para continente europeu. Foram localizadas em depósitos de São Leopoldo 2,3 toneladas de cocaína. Na época, a maior apreensão de drogas da história do Brasil.
A cocaína vinha da Bolívia, permanecia um tempo no Rio Grande do Sul e depois era enviada à Europa de navio, no meio de sapatos.
Agora a droga também vinha da Bolívia. Chegava em aviões agrícolas, caminhonetes e caminhões. Só o disfarce mudou. Ao invés de couro, a cocaína dessa quadrilha atacada hoje era exportada em blocos de pedra. A intermediação envolvia colombianos radicados no Brasil. Uma multinacional do crime.
Nos anos 1990, a droga enviada pelos gaúchos à Europa era receptada pela Máfia italiana (aquela dos filmes de gângster). Os receptadores, agora, podem ser os mesmos. O continente europeu é o que paga mais e melhor pela droga.