Após quase um ano e meio do desaparecimento da modelo Nicolle Brito Castilho da Silva, na noite de 2 de junho de 2017, em Cachoeirinha, a Justiça realiza na tarde desta segunda-feira (26) a primeira audiência sobre o caso. Devem ser ouvidos os relatos de sete testemunhas de acusação e de defesa.
No dia 29 de junho de 2018, o Ministério Público (MP) denunciou dois homens e uma mulher por homicídio triplamente qualificado – com motivo torpe, mediante dissimulação e com emprego de tortura. A Justiça aceitou a denúncia no dia 10 de julho.
Para o MP, um apenado do Presídio Central de Porto Alegre determinou a morte de Nicolle por vingança, convencido de que ela havia delatado a rivais o endereço onde estava um comparsa de sua facção, que acabou assassinado com a companheira dias antes do sumiço da modelo. A namorada deste detento teria conseguido o endereço de Nicolle e "instigado" o criminoso a ordenar o crime.
"Ciente da ordem, o terceiro denunciado (executor) e outros indivíduos, mediante dissimulação, atraíram a vítima do interior de casa, usando pessoa conhecida (ainda não identificada) e, na sequência, raptaram-na, levando-a ao local onde passaram a torturá-la com agressões físicas, causando-lhe intenso sofrimento até sua morte", revela trecho da denúncia.
Até hoje, o corpo de Nicolle não foi localizado. Um áudio obtido durante a investigação da Polícia Civil indica que ela foi vítima de um crime brutal:
— Ela já era, ela foi cortada, foi botada dentro dos pneus e foi "tacado" fogo. Depois foi "tacada" dentro do Guaíba — diz um presidiário indiciado.
Um dos réus está preso e, o outro, após ser considerado foragido, teve o mandado de prisão revogado. A Justiça negou um terceiro pedido de prisão feito pela polícia contra uma mulher, igualmente indiciada. O processo segue em sigilo e, por isso, os nomes dos réus não foram revelados.
O inquérito da Polícia Civil foi finalizado no dia 1º de junho, após quase um ano de investigação, quebra de sigilos telefônicos, de redes sociais, cumprimento de 15 mandados judiciais e depoimentos de 26 testemunhas.
Relembre o caso
- No dia 2 de junho de 2017, Nicolle Brito Castilho da Silva, então com 20 anos, desapareceu da própria casa, enquanto seu pai, Sidnei Castilho da Silva, 47 anos, buscava um lanche nas proximidades.
- Entre o fim de julho e início de agosto do mesmo ano, registros de atividades no Facebook da jovem levaram a polícia a crer que ela pudesse ainda estar viva.
- Em 23 de julho, o corpo carbonizado de uma mulher foi encontrado no bairro Cascata, em Porto Alegre. Exames de DNA mostraram incompatibilidade com o perfil genético do pai da jovem.
- Em agosto, a polícia não descartava a possibilidade do desaparecimento da modelo estar ligada a um caso de sequestro e estupro, descartado depois com as investigações.
- Durante o primeiro semestre de investigações, a delegacia analisou escutas telefônicas que colocavam um presidiário de 20 anos e a namorada dele de 24 no cenário do crime. A ex-estagiária de um fórum é demitida, após ser conduzida coercitivamente para prestar depoimento.
- Polícia pede prorrogação no inquérito em dezembro de 2017.
- Em 1º de maio de 2018, um homem investigado pela polícia no Caso Nicolle é executado em Gravataí.
- Em 1º de junho de 2018, a Polícia Civil finaliza a investigação do crime indiciando três pessoas pelo homicídio e outras duas por crimes relacionados.
- Em 29 de junho de 2018, o Ministério Público denúncia três pessoas suspeitas do crime.
- Em 10 de julho de 2018, a Justiça aceita a denúncia e torna três pessoas rés pelo crime.