Uma casa simples, praticamente abandonada, virou cenário de uma chacina com sete mortos no bairro Passo das Pedras, na Zona Norte de Porto Alegre. Vizinhos da residência relataram que o local era ponto de consumo de drogas há pelo menos 10 anos. Ali já funcionou inclusive um asilo, há mais de 30 anos. Com a morte da dona do estabelecimento, o terreno foi dividido entre e família e quatro casas foram erguidas.
Diferente da chacina em Viamão, onde as ruas se alternavam entre paralelepípedos e chão batido, o asfalto delimita o local. A casa do Passo das Pedras fica a pouco mais de 100 metros da Avenida Baltazar, uma das principais vias de escoamento da Capital.
Localizada em uma ladeira, parte da residência fica abaixo do nível da calçada. Quatro árvores no pátio da frente ajudam a esconder a faixada de alvenaria. Na manhã desta sexta-feira (20), o varal amanheceu carregado com um cobertor e algumas peças de roupa. No chão, o lixo se acumulava aos montes.
Por ali, restavam poucos sinais de uma chacina. Mas a noite de terror ainda é nítida na memória dos moradores. Uma cozinheira de 45 anos estava conversando com uma vizinha em sua casa quando ouviu os estampidos:
— Achei que fosse até bombinhas. Eu fui à janela e vi três caras armados descendo a rua e entrando em um táxi na esquina. Um deles estava de boné e outros dois estavam de rosto limpo. Ficamos assustados — relata.
Vizinho dela, um morador de 31 anos bebia cerveja sentado em uma cadeira na frente de casa quando ouviu os disparos. Ainda conseguiu ver pessoas tentando fugir do local.
— Nem parece que era tiro. Escutei mais de 60 disparos — conta.
Uma das moradoras do terreno onde fica a casa, que preferiu não se identificar, relata que a residência registrou "entra e saí" de usuários de drogas durante a noite. Segundo a mulher, o alvo dos atiradores seria Douglas Seelig de Fraga, 38 anos, que foi reconhecido pelos criminosos na rua e voltou correndo para casa, com os atiradores no seu encalço. Em seguida, iniciaram os disparos.
De uma das janelas da casa, avistou ao menos sete pessoas conseguindo escapar. Dois deles acabaram baleados na fuga, um deles acabou morrendo no hospital. Segundo a moradora, a maior parte das vítimas apenas consumia drogas no local, não moravam ali. Um deles seria morador de rua.
Preocupados com a situação, a família dona do terreno pretende construir um muro para separar a casa da chacina das outras.
— Vamos erguer um muro bem alto. Somos todos trabalhadores aqui. Ali era fumódromo. Tomara que não volte mais a ser — relata.
"Rua tranquila", diz morador
Outro vizinho da residência relata que, apesar do ponto de consumo de drogas, não havia problemas deles com as redondezas.
— É uma rua tranquila. Todos eles me cumprimentavam, nunca tentaram assaltar ninguém para conseguir dinheiro. Um deles, que era morador de rua, eu dei ontem (quinta-feira) R$ 5 para levar embora umas madeiras para mim.
A mulher dele concorda que a relação era pacífica:
— Não mexiam com a comunidade. Até cuidavam. Eram quietos.
Entretanto, há quatro anos um outro tiroteio na casa deixou duas pessoas feridas, que foram atingidas a tiros, segundo o relato de outro vizinho.