Os dois suspeitos de um suposto estupro, ocorrido no fim de semana no hotel Plaza São Rafael, no centro da Capital, foram ouvidos novamente nesta segunda-feira (16) pela Polícia Civil e negaram o crime. A polícia ainda coletou arquivos das câmeras de segurança do estabelecimento e as roupas de cama do quarto do 13º andar, que serão encaminhados para a perícia. Também foram solicitadas imagens de videomonitoramento de uma boate, onde a vítima e os dois estiveram na madrugada de sábado.
A mulher afirma ter sido violentada por dois jogadores de um evento de carteado, que ocorria no hotel. No entanto, os três teriam se conhecido em uma festa. Ela não estava hospedada no local, mas chegou às 6h48min de sábado acompanhada de um hóspede (suspeito do estupro). Ela deixou o quarto, logo após às 7h, sem roupas, e foi até o ponto onde era servido o café da manhã e foi socorrida pelos funcionários. Logo após, Brigada Militar foi chamada e levou os envolvidos para a Delegacia de Polícia. Depois do registro, todos foram liberados, sem realização de flagrante.
— A dúvida da delegada que analisou o caso é se ocorreu o estupro ou se houve relação sexual consentida. Por isso, entendeu que era melhor apurar, com mais detalhamento, durante o inquérito — explica delegada Clarissa Demartini, da Delegacia Especializada em Atendimento à Mulher (Deam), que ouviu os suspeitos.
Como um deles reside no interior do Estado e outro em Santa Catarina, a polícia solicitou que os dois permanecessem em Porto Alegre para novo depoimento. Eles voltaram a negar que tenham cometido o abuso e falaram que conheceram a mulher na boate, no bairro MontSerrat, no Centro. Depois da festa, a mulher teria ido com um dos suspeitos até o hotel.
— Relataram que se conheceram na festa e que depois disso, no hotel, a relação sexual foi consentida, não foi forçada — afirma a delegada.
Os dois alegaram ainda que ela saiu de forma repentina do quarto. A vítima conta que foi levada ao local e mantida contra a vontade. Teria sido violentada pelos dois e saído pelo corredor em busca de ajuda. O momento em que a mulher chega ao hotel e deixa o dormitório foi gravado por câmeras. As imagens foram coletadas pela polícia na tarde desta segunda-feira. As cenas registradas na boate ainda não foram entregues aos investigadores.
— Ainda não posso me manifestar sobre essas imagens. Elas serão analisadas ao longo da semana — diz Clarissa.
A mulher foi submetida a exame de corpo de delito no fim de semana, mas ainda não há previsão de recebimento do laudo. A delegada confirmou ainda que em um primeiro momento a vítima apontou outras três pessoas como sendo autoras do estupro e depois voltou atrás no relato. Conforme a policial, a vítima será ouvida novamente nos próximos dias.
Outras testemunhas, que estavam na mesma festa, foram ouvidas pela polícia. Entre elas, o namorado da mulher que contou que estava com ela na boate, mas foi embora após terem brigado. Ele foi até o hotel, depois de saber que a companheira teria sido violentada.
— A gente está tentando esclarecer todos esses detalhes.
A reportagem tenta contato com a vítima, mas não obteve retorno até o momento.
Caso ocorreu minutos após chegada em hotel
A gerente-geral do Plaza São Rafael, Isabel Travezani, contou que estava no hotel no momento em que ocorreu o caso. Relata que a mulher não estava hospedada, mas chegou acompanhada de um hóspede e um casal. Logo depois, ela e um suspeito do estupro subiram até o 13º andar. Alguns minutos após, por volta das 7h, a suposta vítima desceu pelo elevador sem roupas. Foi até o subsolo onde está localizado o restaurante e tentou entrar na área onde é servido o café da manhã. Acabou contida na porta por um funcionário.
— Saiu do quarto e desceu pelo elevador. Quando o maître viu, colocou um roupão nela e levou até uma sala. Ninguém no hotel ouviu nada, antes dela descer.
A gerente diz que tentou conversar com a mulher para entender o que havia ocorrido e a segurança informou a Brigada Militar sobre a suspeita de abuso sexual.
— Inicialmente ela apontou outras três pessoas como autoras do estupro, inclusive o nosso maître que a acudiu. Depois, dois hóspedes informaram que estavam com ela. Eles mesmo se apresentaram - conta.
A gerente informou que o hotel está colaborando com as investigações e acompanha os desdobramentos do caso.
O que diz a defesa
O advogado dos dois suspeitos, Marcelo Bruno Moraes Nascimento, nega que tenha ocorrido estupro e diz que a mulher teria conhecido um dos jogadores em uma festa. Depois, seguiu com ele até o hotel.
— As filmagens da boate comprovam que a suposta vítima ficou com um dos rapazes no camarote. Posteriormente, foi com ele para o hotel em que o rapaz estava hospedado. As imagens da câmera do hotel comprovam que eles entraram abraçados e sorrindo.
Segundo Nascimento, os dois relataram que a mulher teria saído do quarto, sem roupas, após se relacionar com os dois, com o consentimento dela. Depois disso, após fazer contato com o namorado, no saguão do hotel, teria afirmado que foi violentada.
— Eles estão muito assustados. Não houve estupro em hipótese alguma — afirma.