Em continuidade às investigações da Operação Barão — esquema criminoso de roubo, clonagem e revenda de veículos de luxo que lucraria até R$ 800 mil por mês —, a Polícia Civil descobriu novos galpões ilegais de desmanche, em Porto Alegre. As informações são do Fantástico, que mostrou neste domingo (1°) como agiam os ladrões que também comercializariam peças e carros pela internet.
Na quinta e na sexta-feira passada, a ofensiva encontrou o atual e maior depósito da quadrilha, no bairro Floresta. No local, 25 toneladas de peças de carros de luxo foram retiradas pela polícia em 10 caminhões. O outro pavilhão, localizado no bairro Sarandi, tinha até sistema de vigilância, era onde os criminosos embalavam as peças para enviar para todo o país.
Nesses locais, foram encontrados "jammers", bloqueadores de sinal, usados para embaralhar GPS e rastreadores. Ainda foi apreendida uma "raquete", aparelho no formado do acessório usado para jogar tênis que serve para localizar rastreadores nos veículos. No Estado, são nove galpões ilegais fechados pela Polícia Civil, 50 veículos apreendidos e R$ 11 milhões bloqueados em bens da quadrilha.
— A organização criminosa era completa, com divisão de tarefas específicas. Tínhamos as lideranças, os operadores financeiros que faziam a lavagem de dinheiro, as células que eram o braço armado, os assaltantes. Tínhamos os mecânicos, que faziam o desmanche e tiravam as numerações. Tínhamos os gerentes que faziam a movimentação desses kits de peças para que fossem vendidos e entregues para 15 Estados — explica Adriano Nonnenmacher, da Delegacia de Roubo de Veículos, referindo-se aos 33 presos no Estado.
Negócios migraram para a internet
A quadrilha presa também é apontada como dona de ferros-velhos ilegais. Com a Lei do Desmanche em vigor no Estado, o negócio criminoso gaúcho migrou para internet e passou a ter compradores em todo o Brasil, com nomes de fachada como Império Autopeças e Dubai Import. Na operação policial, foram encontrados recibos de vendas feitas para clientes de Bahia, Pará, Rio de Janeiro, São Paulo e Minas Gerais.
— Os criminosos tiveram de se reorganizar a partir da fiscalização, então levaram o know-how para alguns sites de venda. Nossa investigação apurou que eles movimentavam cerca de R$ 500 mil por mês. Intitulavam-se Império Autopeças porque, verdadeiramente, criaram uma empresa muito bem organizada, voltada para o crime, de alta lucratividade — explica o delegado Nonnenmacher.
Para Guaracy Mingardi, analista criminal e membro do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, é necessário mais eficácia:
— Falta mais fiscalização do que adotar a lei dos desmanches. As leis melhoram o sistema, mas enquanto não tiver fiscalização, não adianta. A lei precisa ter gente para ser implementada.
A reportagem do Fantástico encontrou na internet centenas de ofertas de todos os tipos de peças de luxo, vendidas por preços menores dos que os praticados — os produtos estavam disponíveis no Mercado Livre. Para lavar dinheiro do crime, a quadrilha investia em negócios como revenda de veículos, frotas de táxi e de veículos para transporte via aplicativos.
Procurado pelo Fantástico, o Mercado Livre afirmou, em nota, que repudia o uso de sua plataforma por usuários que tenham fins ilícitos. Sempre que recebe denúncia, colabora com a investigação dos órgãos competentes e, quando um usuário é confirmado como infrator, é bloqueado, assim como todos os seus anúncios de produtos. Para o Procon, o portal também pode ser responsabilizado pela venda dos produtos roubados:
— Nosso Código de Defesa do Consumidor diz que todo mundo que está nessa cadeia de fornecimento, seja o site, seja o vendedor, o intermediário, tem responsabilidade solidária, ou seja, responsabilidade integral por aquilo que vendem — afirma Sophia Martini Vial, diretora do procon de Porto Alegre.
DETALHE GZH
Segundo a reportagem do Fantástico, restam apenas dois foragidos na Operação Barão, sendo que um deles — responsável por gerenciar fraudes a seguros e realizar lavagem de dinheiro, tendo sido o laranja que teria adquirido a posse do veículo esportivo inglês Lotus para as lideranças — deve se apresentar nesta segunda-feira (2) à Polícia Civil.