Ação coordenada pela Polícia Civil e pelo Ministério Público paulistas e deflagrada em 14 Estados resultou no cumprimento de 134 mandados judiciais contra suspeitos de vínculos ao Primeiro Comando da Capital (PCC), maior facção do crime no país. Dessas, 75 ordens foram de prisão preventiva e as demais, de busca e apreensão.
No Rio Grande do Sul, foi ordenada a prisão de dois suspeitos, um em Caxias do Sul (que foi capturado) e outro em Canoas (que está foragido). Denominada Operação Echelon, a ação está embasada em 12 meses de investigação, que começou a partir de fragmentos de encontrados nos esgotos do Presídio de Segurança Máxima de Presidente Venceslau (SP). Os papéis mapeavam o avanço territorial do PCC e de "Sintonia de Outros Estados e Países".
O que se verifica são mais laços comerciais com outros grupos e tentativas de iniciação e recrutamento de novos membros
CRISTIANO RESCHKE
Delegado do Gabinete de Inteligência e Assuntos Estratégicos da Polícia Civil gaúcha
Os dois alvos no Rio Grande do Sul — que não tiveram os nomes revelados — são traficantes de porte médio, independentes (não ligados a facções) e teriam sido "batizados" (se filiado) pelo PCC em um presídio. No RS, a facção paulista está presente de forma expressiva apenas na Penitenciária Modulada de Ijuí, onde cumpriu pena, no início dos anos 2000, o líder máximo da facção, Marco Willians Herbas Camacho, o Marcola.
Marcola está isolado na penitenciária paulista de Presidente Bernardes e não há indícios de participação direta dele nos crimes investigados pela Operação Echelon. A última ação expressiva envolvendo membros do PCC no RS foi assalto a banco, com uso de reserva indígena de Tenente Portela como refúgio.
Em novembro de 2013 a Polícia Civil mapeou 61 suspeitos de ligação com o PCC no Rio Grande do Sul. Desses, 26 foram presos. A maioria era formada por presos das Penitenciárias Moduladas de Ijuí e Uruguaiana.
Conforme o delegado Cristiano Reschke, do Gabinete de Inteligência e Assuntos Estratégicos da Polícia Civil gaúcha, a investigação apontou que o PCC tentava recrutar membros gaúchos.
— Esta organização criminosa no RS não tem a mesma expressividade que em outros Estados, mas há alguns indivíduos identificados como ligados a ela. Todo membro de organização criminosa merece atenção independentemente da dimensão do grupo a que se intitule membro. O que se verifica são mais laços comerciais com outros grupos e tentativas de iniciação e recrutamento de novos membros — explica o delegado.
Os trabalhos atuais revelaram o envolvimento de 103 integrantes, dos quais 75 tiveram ordem de prisão decretada hoje pela Justiça em 14 Estados (SP; MS; PR; RS; PA; AL; MG; GO; TO; RR; RN; AC; AP e MA). Alguns, por já se encontrarem presos, tiveram os mandados cumpridos nas respectivas penitenciárias — quando recebem nova voz de prisão. Os policiais civis, tanto de SP quanto de outros Estados, cumpriram também 59 mandados de busca e apreensão. A suspeita é de que estejam envolvidos em mais de uma centena de homicídios, mas a Operação Echelon considera que existem provas, até agora, apenas relativas a 12 deles.
Mais de uma tonelada de drogas apreendida
Durante as investigações foram apreendidas mais de uma tonelada de drogas e preso, no aeroporto de Guarulhos, quando retornava da Bahia, um dos líderes responsáveis por autorizar os homicídios. Os nomes dos presos não foram revelados.
As investigações evidenciaram contato do PCC com criminosos em outros Estados, sobretudo para tráfico de armas e drogas. Estimativa da Operação Echelon é de que nos últimos quatro anos o total de integrantes do PCC fora de São Paulo cresceu quase sete vezes, passando de 3 mil para pouco mais de 20 mil. A facção, que em São Paulo conta com cerca de 11 mil integrantes, está presente ainda em cinco países da América do Sul — Bolívia, Colômbia, Guiana, Paraguai e Peru.
A expansão do PCC pelo Brasil levou à reação de gangues locais, que se aliaram ao Comando Vermelho, iniciando guerra que atinge principalmente os Estados do Norte e do Nordeste. Depois de São Paulo, as unidades da federação que concentram o maior número de integrantes do PCC são, de acordo com o Gaeco, Paraná (2.829), Ceará (2.582) e Minas Gerais (1.432). Foi justamente em Minas que, na semana passada, a facção determinou a realização de série de atentados contra ônibus e ataques contra postos policiais.