Cada informação levantada pelo setor de inteligência da Polícia Civil é fundamental para minimizar os riscos durante operações de captura de foragidos. Para ações como a desta quarta-feira (2), que resultou na morte do inspetor Leandro de Oliveira Lopes, 30 anos, em Pareci Novo, no Vale do Caí, o tipo de crime que o alvo da ação comete e o local onde está indicam o que pode acontecer.
GaúchaZH ouviu chefes de investigação e delegados gaúchos para saber como é feito o planejamento das operações e qual a eficácia dos coletes à prova de balas. Algumas informações foram omitidas para não prejudicar futuras ações e nem colocar policiais em risco.
Como é feito o planejamento?
A regra básica é estar em supremacia de força. Segundo os policiais ouvidos, para evitar surpresas, os policiais responsáveis pela investigação fazem levantamento prévio da área e colhem dados sobre os criminosos. É levado em conta fatores como tipo de delito que a quadrilha comete — assim é possível saber quais armas utilizam — e informações da casa onde o mandado será cumprido. Saber o tamanho do imóvel, a quantidade de andares ou a existência de outras residências no terreno ajudam a prever quantas pessoas podem estar no local.
— É difícil adiantar tudo o que vai acontecer. Corremos riscos diariamente. Estudamos tudo para não sermos surpreendidos, mas o inesperado acontece. A gente sabe que em uma casa de 10 metros quadrados dificilmente estarão 20 pessoas. Desta maneira, vamos planejando cada ação — sintetiza um delegado da Região Metropolitana.
Com quanta antecedência se planejam operações como a desta quarta-feira?
Não há tempo certo. Podem durar meses ou dias. Em regra geral, operações como a desta quarta-feira (2) são planejadas com no máximo duas semanas de antecedência. Diretor de Investigações do Denarc e professor da Academia de Polícia Civil, o delegado Mário Souza explica que depende da urgência, da complexidade e do tamanho da investigação. Somente no dia da execução, os agentes convocados para a força-tarefa ficam sabendo dos detalhes, medida que evita possíveis vazamentos.
É comum a Polícia Civil ser recebida a tiros durante cumprimentos de mandados?
Os policiais consideram baixa a quantidade de reações durante cumprimento de mandados dado o número de operações. Um chefe de investigação diz que na sua delegacia, localizada na Região Metropolitana, são cumpridos em média dois mandados diariamente.
Quais calibres os coletes da Polícia Civil gaúcha suportam?
A Polícia Civil possui dois tipos de coletes à prova de balas. Um deles é o 3A, que o inspetor vestia quando foi baleado. Este equipamento suporta tiros de armas curtas, como revólveres e pistolas calibres 9mm, .22, .32, .38, .40, .44 magnum, .45, .357 magnum e .380. O outro, de grau 3, tem placas de proteção que barram tiros de fuzil.
Os coletes são seguros?
Anderson Spier, diretor da Divisão de Armas, Munições e Explosivos da Polícia Civil (Dame) alerta que, caso se confirme que a bala acertou o ombro do policial, nem mesmo o colete mais robusto faria com que o desfecho fosse diferente. Embora eficazes contra tiros no tórax, os coletes não protegem toda a lateral do corpo e outras partes sensíveis, como cabeça, pescoço e virilha.
Como funciona o treinamento dos agentes?
Antes de um agente da Polícia Civil chegar a trabalhar na delegacia e participar de operações, ou atuar em qualquer ocorrência na investigação, é preciso passar por provas físicas e psicológicas. Conforme o subchefe da Polícia Civil, delegado Leonel Carivali , durante todo o curso, com duração de quatro a cinco meses, os agentes são avaliados. Só depois disso, e de terem recebido nota considerada satisfatória, eles são nomeados e empossados. Conforme os professores, que são policiais da ativa, experiências positivas e negativas da corporação são tratados nos cursos.