Desta vez, não se pode dizer que a Polícia Civil falhou. Refiro-me ao caso da morte do inspetor Leandro de Oliveira Lopes, em Pareci Novo. Dois pré-requisitos em qualquer operação policial, supremacia de força e conhecimento do alvo, foram cumpridos.
1 - Supremacia
A reportagem checou o efetivo: eram 24 agentes e dois delegados da Polícia Civil no cerco à quadrilha visada, ligada à maior e mais violenta facção do tráfico em Porto Alegre. Os bandidos eram dois. Ou seja, existiam 13 policiais para cada criminoso abrigado no esconderijo. Mais do que suficiente para domínio. Os agentes também tinham bom armamento para se contrapor à quadrilha.
2 - Conhecimento dos alvos
Os policiais sabiam quem estaria ali. E, até por isso, o cerco foi cuidadoso. Ninguém ignorava que eram perigosos: o principal alvo já tinha fugido de uma delegacia de Polícia.
3 - Conhecimento do terreno
Os policiais também sabiam que o terreno tinha uma só saída para veículos, pela frente da casa. É um sítio junto a um morro. O cerco foi feito de maneira correta. Talvez não soubessem que existiam cordas para subir um barranco, inteligente estratagema montada pelos bandidos para uma fuga.
Dois fatores parecem ter contribuído para a morte do policial Lopes, ambos difíceis de evitar, mesmo com cuidadoso planejamento. Um deles é que cachorros sentiram a presença de estranhos e começaram a latir. Poderiam ter sido neutralizados? Em terreno íngreme e com mata, quase impossível. Até cães de vizinhos latiriam ante a presença de estranhos.
Tiro teria atravessado colete de inspetor
O outro componente pode ser atribuído ao azar. O inspetor foi atingido num ombro, que foi atravessado pelo projétil. A bala penetrou no tórax e atingiu partes vitais. O projétil teria pego também no colete (não se sabe se antes ou depois do ombro, parte vulnerável, não coberta pela blindagem). A Polícia Civil tem coletes que resistem a tiros de fuzil, usados esporadicamente. Mas a informação é de que o projétil que o atingiu não seria de fuzil. Ou seja, não parece falta de cuidado.
A verdade é que talvez os bandidos não acreditassem que o cerco fosse feito por policiais. Na guerra de facções se tornou comum que matadores usem uniformes policiais para simular prisões e, quando rendidos, os criminosos são executados. Talvez temendo esse destino, os quadrilheiros atiraram primeiro. Que a sociedade saiba reconhecer o papel de servidores públicos como Leandro Lopes que foi vítima de uma tragédia num cerco correto.