O delegado titular da Delegacia de Homicídios de Pelotas, Félix Rafanhim, vê como uma execução, e não como legítima defesa, o ato do empresário que matou, enquanto eram atendidos em uma ambulância, dois suspeitos de assaltarem o comércio de bebidas dele, na tarde de terça-feira (17). O atirador, identificado como Rogério Grimm, 45 anos, foi baleado por um PM e é mantido preso sob custódia em um hospital.
— Não vejo ato de heroísmo em executar pessoas desarmadas dentro de uma ambulância, já sob a custódia do Estado. O senso comum até indica isso, mas na verdade foi um ato tresloucado, sem nenhuma justificativa — avalia o delegado.
Para o policial, em uma análise inicial, o crime cometido pelo empresário é um homicídio qualificado, porque não houve chance de defesa das vítimas. Ele ainda reforça que "as pessoas não podem fazer justiça com as próprias mãos", que considera o ocorrido uma "barbárie" e que o "Estado não pode aceitar isso".
O crime foi comunicado às autoridades por volta das 14h30min. De acordo com a ocorrência policial, a BM foi chamada para atender a um assalto que ocorria em um depósito de bebidas no bairro Parque Obelisco. Em seguida, foi informada de que, no bairro Areal, dois suspeitos em uma motocicleta caíram e ficaram feridos. Um deles estava caído na via, inconsciente, enquanto o outro foi encontrado escondido em um galpão com um revólver — que estava com todas as balas dentro.
Não vejo ato de heroísmo em executar pessoas desarmadas dentro de uma ambulância, já sob a custódia do Estado. O senso comum até indica isso, mas na verdade foi um ato tresloucado, sem nenhuma justificativa.
FÉLIX RAFANHIM
delegado titular da Delegacia de Homicídios de Pelotas
Os PMs chegaram ao local, anunciaram a prisão de ambos e passaram o atendimento deles para o Serviço Móvel de Urgência (Samu). Mais tarde, conforme a ocorrência, o empresário vítima do assalto chegou ao local, passou por curiosos e abriu fogo em uma janela da ambulância. Elder Luz Machado, 23 anos, e outro suspeito ainda não identificado morreram no local.
Policiais da Brigada Militar que presenciaram a cena teriam pedido para ele largar a arma. No momento em que ele virava-se para a guarnição, um dos PMs disparou contra a perna esquerda do empresário. Ele foi levado para o hospital, onde está preso sob custódia pelo crime de duplo homicídio.
O delegado procura testemunhas da sequência de crimes para determinar uma cronologia das ações. O empresário preso deve ser ouvido ainda nesta quarta-feira (18) no hospital. Um dos pontos considerados fundamentais para a polícia é descobrir como o homem teve a informação do local de atendimento dos suspeitos e como passou pela barreira policial.
Grimm está preso por homicídio doloso com a atenuante de ter agido sob forte emoção. A definição sobre se ele ficará preso ou não passa, agora, pela 1ª Vara Criminal de Pelotas, que recebeu na manhã desta quarta o pedido da polícia e irá se manifestar nas próximas horas.
De acordo com a BM, a arma usada pelo empresário é registrada no nome dele e ele é praticante de tiro. Policiais civis suspeitam de que os assaltantes já haviam sido baleados dentro do comércio pelo empresário.
Defesa diz que empresário atirou após ter família ameaçada
O advogado que defende o empresário Rogério Grimm afirma que ele agiu sob forte emoção após ter tido a família ameaçada de morte pela dupla. Conforme Roger Cavichioli, os criminosos pegaram todo o dinheiro do comércio e teriam ficado irritados com a suposta baixa quantia entregue pelo comerciante.