Quando estava sob custódia dos policiais do Departamento Estadual do Narcotráfico (Denarc), depois de ter sido preso no Paraguai, em julho do ano passado, Neri José Soares, o Nazareth, apontado pela Polícia Civil como o principal distribuidor de maconha para o sul do Brasil, comentou que tinha pouca a pena a cumprir e que "resolveria isso logo". Naquela ocasião, ele estava foragido, com dois mandados de prisão preventiva decretados contra si. Eram dois casos de homicídios e, ironicamente, Nazareth tinha razão.
Desde a semana passada ele está novamente em liberdade depois de oito meses na Penitenciária de Alta Segurança de Charqueadas (Pasc), algo que, segundo o diretor de investigações do Denarc, delegado Mario Souza, não mudará a postura do departamento.
— Desde a prisão que fizemos em conjunto com a polícia paraguaia, iniciamos investigações importantes sobre as rotas de tráfico do Neri. Essas investigações prosseguem. Com ele na rua, seguiremos monitorando os seus movimentos. Ele já cumpriu uma pena por tráfico e dados de inteligência demonstram o seu grau de periculosidade — sustenta o delegado.
Durante mais de um ano os agentes do departamento estavam empenhados na captura de Neri Soares. Sabia-se que ele estava radicado na região da fronteira com o Paraguai desde 2013, quando foi considerado foragido pela Justiça. A estimativa divulgada pela polícia em julho do ano passado era de que Nazareth chegava a movimentar R$ 42 milhões por mês com o tráfico da maconha para o Brasil. Não havia contra ele, no entanto, nenhum mandado de prisão por tráfico de drogas.
Conforme havia comentado no momento da sua prisão, em poucos meses conseguiu reverter as duas pendências judiciais que pesavam contra ele.
Em outubro, Soares teve a liberdade provisória decretada por um dos casos. Tratava-se da execução de Jaime Pincerno Kersting, o Lampião, ocorrida em 2008. Lampião era apontado na época como o grande obstáculo para que Neri controlasse o tráfico da Vila Nazareth _ considerada ainda hoje um dos principais pontos de distribuição de maconha de Porto Alegre _, no bairro Sarandi. Na Justiça, nenhuma das testemunhas que apontavam Nazareth como mandante do crime confirmou a versão, e as prisões dele e dos supostos executores foram revogadas. Ainda em 2013, antes de partir para o Paraguai, Neri Soares já havia sido beneficiado com a liberdade no duplo assassinato da esposa de Lampião e de um funcionário dela, ocorrida em 2009. Neste processo, as testemunhas também se calaram em juízo. Nazareth ainda responderá em liberdade por estes crimes.
Por fim, no dia 13 de março, Neri Soares foi beneficiado com a sentença de impronúncia, por falta de provas, em outro homicídio, de 2007. Esta decisão foi fundamental para que ele deixasse a prisão.