Desvios de munições que propiciaram chacinas e assassinatos como os da vereadora Marielle Franco (PSOL-RJ) e do motorista Anderson Pedro Gomes levaram autoridades a mudar regras de postagem para esse tipo de produto em 2007.
Até então, era comum material bélico produzido por fabricantes no país ser entregue via Correios. As investigações sobre o crime apontam que os cartuchos que atingiram as vítimas fariam parte de um carga para a Polícia Federal (PF) da Paraíba, furtadas da sede dos Correios daquele Estado. Marielle e Gomes foram executados com tiros de pistola nove milímetros _ calibre de uso exclusivo das forças militares e policiais. No local do duplo homicídio, foram apreendidas 13 cápsulas.
O desvio da munição ocorreu logo após a PF receber, em 29 de dezembro de 2006, dois lotes de número UZZ-18, com 1,8 milhão de unidades, produzido pela Companhia Brasileira de Cartuchos. Os cartuchos se destinavam a abastecer as superintendências da PF em vários estados. Desde dezembro de 2003, com a entrada em vigor do Estatuto do Desarmamento, todo lote adquiro por corporações de segurança, tem de constar a identificação do comprador, por meio de número e letras.
Segundo o ministro da Segurança Pública, Raul Jungmann, uma parte da munição ficou em Brasília e outra foi via Correios para a Paraíba, onde parte foi furtada. Também teria ocorrido desvio por um escrivão da PF no Rio de Janeiro.
1 - O que a portaria definiu
Em novembro de 2007, uma portaria do Departamento de Logística do Exército estabeleceu mudanças no serviço de transporte de armas, munições e explosivos via Correios, só permitindo alguns acessórios via Sedex.
De modo geral, os fabricantes passaram a utilizar transportadoras privadas, com veículos rastreados por GPS e com escolta armada, entregando diretamente no local da encomenda. O modelo também é usado nas remessas aéreas, entre o embarque e o desembarque nos aeroportos.
2 - De onde vem as munições que acabam com bandidos
Um levantamento da ONG Instituto Sou da Paz, divulgado neste sábado pela Agência Estado, indica que a medida é acertada. O estudo aponta que uma significativa parcela de munições que chegam às mãos de criminosos do Rio de Janeiro foram fabricadas no Brasil, e não contrabandeadas via Paraguai ou Uruguai. Entre 2014 e 2017, quase 30% dos cartuchos apreendidos eram de nove milímetros, o mesmo calibre que matou a vereadora carioca.
3 - Como é no Rio Grande do Sul
As forças de segurança no Rio Grande do Sul seguem o mesmo sistema. Entregas no Palácio da Polícia Civil, onde funciona a Divisão de Armas, Munições e Explosivos (Dame), obedecem um rígido esquema de segurança. A corporação é avisada do horário da chegada e reforça a escolta. O lacre do baú do veículo com as munições e armas somente é rompido na frente de um policial, e só é autorizada a abertura da porta após contato telefônico do transportador com o fabricante, para troca de informações e senhas. Em alguns casos, uma equipe de Ações Táticas Especiais se desloca até o Aeroporto Salgado Filho para receber a carga.