Demonstrações de amor, jantares a dois, flores e fotos sorridentes em redes sociais marcaram o que aparentava ser um relacionamento feliz de Ivan Meyer, 26 anos, e Bárbara Cristina Faes, 23, durante os três anos que ficaram juntos. Até um crime bárbaro chocar a comunidade de Rio do Sul, em Santa Catarina, nesta semana, e mudar completamente a percepção de quem convivia com o casal.
O sentimento de que tudo ia bem alcançava os familiares de Bárbara, como a prima Mariléia Faes, que diz nunca ter visto qualquer sinal de agressividade entre os dois. O irmão mais velho da vítima, Maike Faes, 25 anos, há menos de 20 dias deu adeus à ex-esposa, mãe de sua filha de quatro anos, vítima de um acidente fatal quando transitava de moto na BR-470, em Rio do Sul. Na segunda-feira (26), despediu-se da irmã com quem cresceu compartilhando momentos e um comum sentimento de proteção.
Maike mora em Correia Pinto, cidade próxima, mas falava com Bárbara todo dia por mensagens e costumava visitar o casal aos fins de semana. Via afeto na relação do casal. As poucas discussões, em geral por ciúme, terminavam em reconciliação rápida, uma ou duas horas depois. No último domingo (25), a incredulidade tomou conta de familiares de Bárbara quando o companheiro foi preso sob suspeita de assassinato.
– Era a última pessoa que eu iria imaginar. Parecia fazer tão bem para ela, nunca demonstrou ser violento ou qualquer agressividade. Queria olhar dentro do olho dele e perguntar por que ele fez isso – conta Maike, tentando controlar a revolta que surgem entre a decepção e a dor da perda da irmã.
Contradições levaram à suspeita
Bárbara foi morta na noite do último dia 23, por volta das 21h. Na primeira versão, relatada pelo companheiro da vítima a polícia e familiares, ela teria desaparecido após sair para caminhar. Segundo a família e o delegado regional Leonardo Marcondes Machado, da Polícia Civil de Rio do Sul, ele teria mandado mensagens para a sogra usando o celular de Bárbara, passando-se por ela, para informar que ela sairia mesmo para se exercitar e mais tarde iria jantar na casa dela.
Ainda naquela noite, Ivan foi à casa da sogra para dizer que a companheira havia sumido. Ele denunciou o desaparecimento na delegacia e chegou a publicar uma mensagem no perfil dele no Facebook, que alcançou 5,5 mil compartilhamentos, pedindo ajuda para obter informações sobre o suposto paradeiro de Bárbara.
Depois de dois dias de investigações e buscas incessantes de familiares pela jovem, nas quais nem sempre o companheiro participava, a Polícia Civil identificou contradições no caso.
Conforme a investigação, as câmeras de vigilância do comércio perto do prédio em que o casal morava, por exemplo, não registraram Bárbara saindo para caminhar e mostravam o carro do casal saindo, voltando ao imóvel e depois partindo novamente por volta das 23h. As mensagens no WhatsApp de Bárbara também deixaram de ser visualizadas exatamente no momento em que o companheiro dizia que ela havia ido caminhar e os textos enviados à mãe dela apontando que sairia para se exercitar divergiam do habitual – o comum era Bárbara trocar áudios com a mãe, não textos, aponta o delegado.
– Ela nunca fazia esse trajeto nem de dia porque tinha medo de passar em uma ponte na Barra da Itoupava. Imagina à noite – diz o irmão da vítima, Maike.
Por volta das 17h do último domingo (25), o companheiro foi conduzido à delegacia e, confrontado com as informações divergentes, admitiu ter cometido o crime, de acordo com a polícia.
Paixão por torneios de futsal com as amigas
Bárbara é descrita como uma pessoa sempre sorridente, disposta a conversar e espalhar seu bom humor. Uma das paixões dela eram as partidas e torneios de futsal disputados com as amigas. O casal chegou a trabalhar junto em uma empresa agrícola, mas nos últimos meses Bárbara atuava em uma confecção. O filho do casal, de dois anos, agora está com a avó materna.
Segundo a prima Mariléia, Bárbara e Ivan haviam acabado de mobiliar o apartamento próprio, em uma rua sem saída do bairro Bremer, onde há outros três prédios novos. Por ali, os poucos que falam sobre o assunto apenas dizem não entender o que motivou o rapaz a cometer o crime.
Suspeito segue em prisão temporária
Na tarde de terça-feira (27), a mãe de Bárbara prestou depoimento à Polícia Civil. Na segunda-feira (26), o suspeito havia participado de uma reconstituição e, à noite, a Justiça autorizou a prisão temporária, que tem prazo de 30 dias. Segundo o delegado Machado, ao longo ou no final da investigação, a polícia ou o Ministério Público podem pedir a conversão da prisão temporária em preventiva, com duração maior. Ele está detido no Presídio Regional de Rio do Sul, Santa Catarina.
A Divisão de Investigações Criminais (DIC) da Polícia Civil ainda aguarda laudos de perícias para concluir o inquérito, que deve terminar em 30 dias e apontar por quais crimes o suspeito será indiciado, o que ainda não está definido.
Do lado da família de Bárbara, a expectativa é de punição.
– O que não pode acontecer agora é ele ser solto. A gente quer ao menos justiça, que ele fique preso – pressiona o irmão da vítima, Maike Faes.
O crime
- Ivan contou aos policiais que, durante uma discussão que teria sido motivada por ciúmes, golpeou a esposa com um rolo de macarrão. Ela estaria sentada na cozinha quando foi agredida, no apartamento em que morava, no bairro Bremer. Mais tarde, vizinhos relataram à polícia ter ouvido o barulho de uma queda, choro de criança e latidos da cachorrinha do casal.
- Depois da agressão, ele teria amarrado uma sacola plástica na cabeça de Bárbara para que o sangue não se espalhasse pelo apartamento. De acordo com a polícia, a causa da morte foi apontada como asfixia.
- Ele teria estacionado o carro no pátio externo, ao lado da sacada do apartamento, que fica no térreo. Com o automóvel posicionado, teria levado o corpo até a sacada e o jogado no porta-malas do veículo. Teria, ainda, colocado o filho de dois anos no banco de trás e dirigido por 18 quilômetros até a localidade de Barra do Taboão.
- Em uma curva em uma área de mata, teria abandonado o corpo, jogando-o de um barranco. O suspeito teria admitido à polícia que os trajetos de ida e vinda feitos de carro e registrados pelas câmeras foram para se livrar do corpo. Na tarde de terça-feira, uma peça de roupa que seria de Bárbara ainda estava no local em que o corpo teria sido deixado.
Contraponto
Procurado pela reportagem, o advogado de Ivan, Jean Carlos Belli, afirmou que ainda está se inteirando sobre as informações do caso e não poderia repassar informações. No entanto, confirmou que Ivan admitiu ter cometido o crime, que estaria arrependido e que a motivação teria sido "passional".