Em um ano, quatro das cinco cidades mais populosas do Rio Grande do Sul, fora Porto Alegre, registraram aumento nos casos de homicídios. São elas: Pelotas, Canoas, Gravataí e Santa Maria. Apenas Caxias do Sul ficou na contramão e teve queda de 28,4% entre 2016 e 2017. Os dados constam nos indicadores criminais da Secretaria da Segurança Pública divulgados na segunda-feira.
O aumento dos assassinatos é mais expressivo em Pelotas: 60%, disparando de 66 para 106 casos.
A cidade do Sul lançou, em agosto do ano passado, o Pacto pela Paz, projeto para coibir a criminalidade. O secretário da Segurança do município, Aldo Bruno Ferreira, justifica que a maior parte dos homicídios ocorreu antes de o programa entrar em vigor ou durante o indulto de Natal, no final do ano.
— As facções entraram em guerra e ocorreu essa matança — argumenta.
Já o titular da Delegacia de Homicídios, Felix Rafahim, também atribuiu a série de casos registrados em dezembro, que prosseguiram em 2018. O delegado classifica o cenário como "complexo", mas que pode ser explicado pelo aumento da rivalidade entre organizações criminosas e pelo crescimento de crimes passionais. Para o policial, houve situação atípica em 2016, com queda brusca nos assassinatos.
— Se comparar 2017 com 2015, ficou praticamente a mesma coisa. Em 2015, foram 108 homicídios.
Rafahim afirma que a queda repentina de assassinatos em 2016 ocorreu por uma operação, realizada em março, que prendeu os principais autores dos crimes. Ao todo, 37 pessoas foram indiciadas.
Além dos homicídios, Pelotas teve aumento nos roubos de carros, com 26 casos a mais. O delegado da especializada em furto e roubo de veículos, Rafael de Souza Lopes, disse que os assaltos têm características diferentes de grandes centros, como Porto Alegre:
— Aqui é comum usar para um crime e depois liberar. Por isso, nossa taxa de recuperação é alta, de 70%.
Caxias, a segunda maior cidade do Estado, teve queda nos dois principais indicadores da violência: homicídio e latrocínio. E apresentou queda de 15% nos roubos de carros. Já Santa Maria, registrou estabilidade nos homicídios (58 contra 59), queda nos assaltos com morte e no número de carros roubados.
Gravataí tem alta de 40% nos roubos com morte
Em Gravataí, o aumento expressivo dos assassinatos é justificado pela guerra travada entre facções que disputam territórios e pontos de tráfico. Segundo o delegado regional Volnei Fagundes Marcelo, também contribuiu a soltura de presos, ligados a esses grupos, em junho e setembro. Além dos homicídios, houve alta de 40% nos casos de latrocínio. O policial relaciona a situação com aumento da violência nos assaltos.
— Geralmente, o latrocínio ocorre quando há reação da vítima. Pode ser um susto ou movimento brusco.
O secretário da Segurança, Cezar Schirmer, disse, em entrevista à Gaúcha, que o número de crimes contra a vida continua alto e frisou que pessoas que não se envolvem com o consumo e venda de drogas têm menos chance de ser vítimas de homicídios:
— A maioria destes homicídios se dá entre traficantes e, obviamente, no meio do caminho mata gente que não tem nada a ver com este assunto.
Em um ano, Canoas zera latrocínios
Com mais de 320 mil habitantes, Canoas reduziu a zero os casos de latrocínio. Em 2016, foram cinco ocorrências. Para o secretário da Segurança, Ranolfo Vieira Júnior, o cenário pode ser explicado por três fatores: integração entre órgãos, investigação e investimentos. Além dos latrocínios, ocorreu redução de 10,6% no roubo de veículos.
— No ano passado, fizemos 60 operações integradas. Com base em dados da inteligência, conseguimos focar onde tinha mais homicídios e passamos a planejar as operações visando coibir crimes.
Mesmo assim, a cidade teve mais assassinatos de um ano para outro. De 109 casos de homicídios, o número passou para 117, elevação de 7,3%. Para o secretário, isso se deve a dois motivos: aumento na guerra entre facções e divergências nas estatísticas, com a morte de vítimas de tentativa de homicídio.