O ataque em Gravataí na madrugada deste domingo (22) representa, segundo a Brigada Militar, mais um episódio das disputas violentas pelo tráfico de drogas. O crime aconteceu em um local vizinho à Rua da Ladeira, considerada o núcleo de uma das maiores facções gaúchas.
O comandante da BM de Gravataí, tenente-coronel Vanderlei Padilha, afirma que esse tipo de ataque, com dezenas de feridos, não é comum, mas ele atribui o caso a mais uma disputa pelo tráfico.
— Se trata de uma guerra entre facções. A disputa entre essas facções é muito grande. E isso está piorando e aumentando cada vez mais. Quem alimenta toda essa violência são os usuários de drogas.
Sobre a força-tarefa, que vem sendo realizada desde setembro por conta dos homicídios no município, o oficial defende que a medida apresentou resultados positivos.
— O que acontece é que não podemos mensurar aquilo que conseguimos evitar. Temos apreendido muitas armas e drogas. Sabemos que essas mortes, a grande maioria pelo menos, está vinculada ao tráfico de drogas e acerto de contas.
Os criminosos responsáveis pelo ataque utilizaram armas de grosso calibre, como fuzis 5.56 e .30.
— Quando eles querem se matar, não temos como saber como, quando e quem vai ser a vítima. O que podemos fazer é ações para apreender armas e drogas. E estamos fazendo.
Segundo o comandante, o setor de inteligência da BM também está trabalhando na tentativa de identificar quem são os envolvidos. Ele disse ainda que, assim como a Polícia Civil, a BM conta com informações da comunidade.
Uma das suspeitas da polícia é que criminosos do bairro São Geraldo, que integram um grupo rival ao que atua na região onde houve o ataque, tenham sido os autores do atentado. Os tiros começaram em um bar próximo a uma casa onde era realizada uma festa. A casa também foi invadida pelos atiradores. Os dois mortos não tinham antecedentes criminais.
Homicídios saltaram 44% no município neste ano
Desde o início deste ano, conforme levantamento dos jornais Diário Gaúcho e Zero Hora, 143 pessoas foram assassinadas em Gravataí. No mesmo período do ano passado, também de acordo com levantamento, foram 99 vítimas. Em todo o ano, foram 117.
Em setembro, o número de homicídios levou a Secretaria da Segurança a determinar a realização de uma força-tarefa, com reforço temporário no efetivo da Brigada Militar e Polícia Civil, para tentar controlar os índices. Até então, 119 assassinatos tinham sido registrados na cidade _ 43% a mais do que no mesmo período de 2016.
Um dos episódios violentos que chamou atenção para a barbárie da guerra do tráfico foi a divulgação de um vídeo, no fim de agosto, no qual dois primos foram obrigados a cavar a própria cova, antes de serem executados.
As disputas entre grupos rivais
A cidade vive, conforme a Polícia Civil, um confronto entre criminosos ligados a pelo menos quatro quadrilhas. Aliado a isso, conforme a polícia, traficantes da cidade recebem o reforço de aliados de outras cidades, como Porto Alegre, para assegurar os pontos de tráfico.
Em junho de 2015, o grupo que liderava o tráfico de drogas e uma série de outros crimes em Gravataí foi alvo da Operação Clivium, que resultou na prisão de 107 suspeitos. Eles tinham como sede justamente o bairro Morada do Vale II, onde aconteceu o atentado neste fim de semana.
Com a prisão da maior parte dos integrantes do grupo, o território passou a ser disputado por outras quadrilhas da cidade e de fora. Há pouco mais de dois meses, no entanto, a Justiça determinou a soltura de 24 presos na operação, por meio de um habeas corpus coletivo, o que acirrou ainda mais as disputas.
A violência gerada pela guerra do tráfico não está limitada às zonas conflagradas. Os homicídios, segundo a polícia, ocorrem em diferentes bairros da cidade. Somente em um fim de semana de setembro, nove pessoas foram assassinadas em Gravataí. No mesmo período, circulava pelo município um suposto toque de recolher, no qual moradores eram orientados a permanecer dentro de casa.