Nem dentro de casa as pessoas se sentem seguras. Esta foi a conclusão de uma pesquisa apresentada nesta quarta-feira (13) pela Associação dos Oficiais da Brigada Militar (AsofBM). Moradores de sete cidades da Região Metropolitana foram ouvidos e, para 55,8% delas, não há segurança plena sequer no seu domicílio. Entre os locais das cidades onde as pessoas responderam sobre a percepção de segurança, 90,8% afirmaram não se sentirem seguras nas ruas durante o dia. À noite, o índice sobe para 97%.
A pesquisa, encomendada pela AsofBM ao instituto Segmento Pesquisas, ouviu 600 pessoas de Canoas, Alvorada, Gravataí, Novo Hamburgo, São Leopoldo, Esteio e Sapucaia do Sul, entre os dias 29 de setembro e 12 de outubro de 2017. A intenção, de acordo com o presidente da associação, coronel Marcelo Gomes Frota, era medir a sensação de segurança da população na região onde os índices de criminalidade explodiram no ano. E nove em cada 10 entrevistados apontaram que a situação da segurança em suas cidades piorou nos últimos três anos. Em 2016, a mesma pesquisa foi feita em Porto Alegre, e demonstrou índices ainda piores. Para 71,6% das pessoas não havia segurança plena nem dentro de casa. A sensação de que a segurança havia se deteriorado em três anos na cidade chegava a 96,8% dos entrevistados.
— Nossa intenção com a pesquisa é propositiva. Acredito que aquele levantamento do ano passado, concentrado em Porto Alegre, tenha pesado no momento do governo estadual priorizar o reforço no policiamento na Capital. Foi a demonstração de que, em segurança, não se pode falar em fazer mais com menos. É sintomático. Sempre que se cortam investimentos, aumenta a criminalidade. E recuperar a sensação da segurança é sempre mais demorado do que combater o crime propriamente dito — diz o oficial.
OS NÚMEROS
83,8% avaliam negativamente a segurança pública
78% classificam como ruim ou péssimo o governo estadual na segurança
Percepção da violência nos últimos três anos em sua cidade:
88,2% apontam que piorou na Região Metropolitana
Principal causa da violência:
29,2% Tráfico de drogas
21,2% Desemprego
12,7% Falta de policiamento
10,7% Leis que não funcionam
Principal medo da população:
52,7% Assalto
10% Ser morto em um assalto
Sensação de segurança em cada local:
Na rua à noite — 97% se sentem parcialmente seguro/inseguro/muito inseguro
Na sua cidade — 94,8% se sentem parcialmente seguro/inseguro/muito inseguro
Na parada de ônibus — 93,3% se sentem parcialmente seguro/inseguro/muito inseguro
Dentro do ônibus — 91,4% se sentem parcialmente seguro/inseguro/muito inseguro
Na rua durante o dia — 90,8% se sentem parcialmente seguro/inseguro/muito inseguro
Nos parques da cidade — 89,8% se sentem parcialmente seguro/inseguro/muito inseguro
Nos bares e comércio — 88% se sentem parcialmente seguro/inseguro/muito inseguro
No bairro onde moram — 87,5% se sentem parcialmente seguro/inseguro/muito inseguro
No carro ou moto — 71,6% se sentem parcialmente seguro/inseguro/muito inseguro
No táxi — 69,2% se sentem parcialmente seguro/inseguro/muito inseguro
No local de trabalho — 59,4% se sentem parcialmente seguro/inseguro/muito inseguro
Na sua casa — 55,8% se sentem parcialmente seguro/inseguro/muito inseguro
Gravataí mais violenta
A pesquisa foi encerrada semanas antes do atentado que matou duas pessoas e deixou mais de 30 feridas no bairro Morada do Vale II, em Gravataí, mas iniciou dias depois de um final de semana em que nove pessoas foram assassinadas no município, provocando o deslocamento do primeiro reforço policial para lá. Pois Gravataí apresenta a maior sensação de insegurança da população entre os municípios pesquisados. Para 96% das pessoas, a criminalidade local aumentou nos últimos três anos. Em Alvorada, a mesma resposta foi dada por 91,3% dos entrevistados.
Conforme o levantamento de GaúchaZH, desde o começo do ano, 174 pessoas já foram assassinadas no ano em Alvorada. Em Gravataí, foram pelo menos 163 mortos. Nas duas cidades, o total de assassinatos do ano anterior já foi ultrapassado. Na Capital, onde houve reforço no policiamento em 2017, 606 pessoas foram assassinadas neste ano — redução de 16,8% em relação ao mesmo período de 2016.
— A escolha de onde empregar o efetivo é de governo, não diz respeito a nós. Mas nossa preocupação, e é isso que vamos apontar entregando a pesquisa, é com uma política de Estado mais ampla na área da segurança. Hoje a Brigada Militar atua com 62% de defasagem no efetivo — critica o coronel Frota.
A principal proposta da AsofBM é de que seja estipulado em lei a reposição anual de efetivo na corporação.
— Sabemos que anualmente em torno de dois mil PMs deixam o serviço. O governo anunciou um grande concurso para o ano que vem, mas não há qualquer garantia de que os aprovados serão chamados. Nossa ideia é de que, a cada ano, seja garantido por lei a reposição do número de policiais deslocados para a reserva, mais 10% — detalha o representante dos oficiais da BM.
Para 31,5% dos entrevistados, a principal ação a ser adotada para melhorar a segurança pública deveria ser o aumento do policiamento nas ruas. seguido pela opinião de 18,2% que defenderam mudanças nas leis, com um código penal mais rigoroso.