Acampados no pátio do Presídio Central de Porto Alegre desde o fim de outubro, 110 presos aguardam vagas no sistema prisional sob a marquise do Pavilhão H. Eles improvisaram abrigos de lona e tecido que ajudam na proteção da chuva e do sol. Ali, durante dia e noite, fazem suas refeições e utilizam duas torneiras para fazer a higiene pessoal.
O grupo integra a mesma quadrilha que, em 24 de agosto, teria sido expulsa da 2ª galeria do Pavilhão A após a execução, um dia antes, de João Carlos da Silva Trindade, o Colete, 39 anos, na Vila Maria da Conceição, no bairro Partenon, na Capital. O assassinato teria gerado atrito na galeria e resultado na expulsão de 164 detentos.
Em 4 de setembro, policiais do Batalhão de Operações Especiais da Brigada Militar (BOE) e agentes da Superintendência dos Serviços Penitenciários (Susepe) transferiram parte dos presidiários para penitenciárias de Charqueadas e de Arroio dos Ratos. No entanto, 140 deles foram realocados dentro da própria Cadeia Pública de Porto Alegre.
Eles pediram para descer por incompatibilidade com a massa carcerária. Estão recebendo alimentação, visita na sala que chamamos de piloto e toda a assistência que precisam.
MARCELO GAYER
Diretor do Presídio Central
A medida se sustentou por aproximadamente dois meses, até que os integrantes do grupo entraram em novo conflito, agora com as facções que os acolheram, e decidiram voltar para o pátio do Central. Conforme o diretor da casa prisional, tenente-coronel Marcelo Gayer, a situação está controlada. Tanto a Vara de Execuções Criminais quanto a Susepe foram informadas da necessidade de transferência.
— Eles pediram para descer por incompatibilidade com a massa carcerária. Estão recebendo alimentação, visita na sala que chamamos de piloto e toda a assistência que precisam — disse o oficial.
"Eles não convivem com mais ninguém", diz juíza
Responsável pela casa prisional, a juíza da Vara de Execuções Criminais de Porto Alegre Sonáli da Cruz Zluhan lembrou que em setembro os presos foram colocados "meio que à força dentro das outras galerias", obrigando as outras facções a aceitá-los.
— Eles não ficaram bem acomodados, pois a briga que existe na rua se reflete dentro do Presídio Central. O problema é que eles não convivem com mais ninguém. Querem uma galeria só para eles, mas não tem vaga em lugar algum. Enquanto isso, estão em péssimas condições no pátio, sem lugar para comer direito nem para tomar banho.
Enquanto isso, estão em péssimas condições no pátio, sem lugar para comer direito nem para tomar banho.
SONÁLI DA CRUZ ZLUHAN
Juíza da Vara de Execuções Criminais de Porto Alegre
A magistrada contou que se reuniu mais de uma vez com as direções do Central e da Susepe e deu prazo até segunda-feira para que o impasse seja solucionado.
"Não iremos ceder à pressão de nenhuma quadrilha", garante diretor da Susepe
O diretor do Departamento de Segurança e Execução Penal da Susepe, Ângelo Larger Carneiro, afirmou que o grupo desceu das galerias "por livre e espontânea vontade" e que o Estado não tem obrigação de atender aos "caprichos de ditas fações criminosas".
— Não iremos ceder à pressão de nenhuma quadrilha. Estamos buscando alternativas para retirá-los do pátio. Enquanto isso, terão de esperar pacificamente.
Por medida de segurança, Carneiro preferiu não informar quais medidas podem ser tomadas.