A operação que envolveu 490 agentes em Porto Alegre nesta segunda-feira (4) pela manhã é um novo episódio da crise na segurança do Estado. Um dia depois da morte do traficante João Carlos da Silva Trindade, o Colete, em 23 de agosto na Vila Maria da Conceição, 164 presos foram desalojados da segunda galeria do pavilhão A do Presídio Central. Por mais de 10 dias, eles permaneceram no pátio da cadeia – banheiros químicos chegaram a ser instalados no local.
Em coletiva de imprensa, nesta segunda, o secretário da Segurança Pública do Estado, Cezar Schirmer, disse que não houve expulsão dos detentos, mas um pedido deles por uma galeria exclusiva.
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Entenda o que ocorreu desde a morte de Colete até a transferência dos presos:
– Até ser solto, em 12 de abril deste ano, Colete era considerado um dos líderes da segunda galeria do pavilhão A do Presídio Central. De acordo com a polícia, também comandava o tráfico de drogas na Vila Maria da Conceição.
– A galeria mantinha diferentes quadrilhas em torno de uma facção, mas a situação mudou com a morte de Colete. No dia 24, um dia após o assassinato, 164 detentos foram desalojados e passaram a aguardar por transferência no pátio do Presídio Central.
– Cinco dias após a execução de Colete, Alexandre Vieira da Silva, 38 anos, sem qualquer relação com o tráfico de drogas, foi morto na Rua Irmã Neli, na Vila Maria da Conceição. Homens passaram atirando pela região.
– No fim da manhã do dia 29 de agosto, a Susepe, a cúpula da segurança pública do Estado a Brigada Militar tentaram encontrar solução para os presos que ainda estavam no pátio da cadeia. A reunião terminou sem que o impasse fosse resolvido.
– No mesmo dia, o diretor da Cadeia Pública, tenente-coronel Marcelo Gayer, disse que a situação do presídio era crítica e que não tinha mais o que fazer pelo grupo de presos. "Não há espaços em outras galerias para colocá-los. O que estamos fazendo é garantir alimentação e local para a higiene dos detentos", afirmou.
– No sexto dia em que os 164 detentos permaneceram no pátio do Presídio Central, nova reunião da direção da casa prisional e a Susepe tentou elaborar outro plano para a transferência do grupo.
– Ainda no dia 29, houve tentativa de realocar os presos para outras galerias do Central, porém eles não foram aceitos. Das 11 galerias do presídio, 10 são controladas por facções diferentes da quadrilha dos detentos desalojados.
– No fim da tarde de 30 de agosto, nova reunião entre Susepe e direção do presídio determinou que os detentos seriam transferidos para outras penitenciárias. Na ocasião, 20 vagas estavam disponíveis em outros presídios.
– Em 31 de agosto, Gayer informou que o intuito era transferir presidiários na próxima semana, mas que ainda não havia prazos concretos para que os homens saíssem do pátio.
– Na sexta-feira (1º), criminosos passam novamente atirando a esmo nas proximidades da Vila Maria da Conceição. Mais de 70 disparos foram feitos. O adolescente Denis Raphael Guterres, 16 anos, acabou atingido e morreu. Um homem e uma criança ficaram feridos no ataque.
– Onze dias depois do desalojamento dos 164 detentos, 20 foram transferidos para a Penitenciária de Charqueadas e para a de Arroio dos Ratos. Outros 140 foram realocados dentro do próprio Central.
– Após a operação para transferência, o secretário da Segurança Pública Cezar Schirmer concede coletiva de imprensa e declara que os presos saíram das galerias por conta própria, com a intenção de conseguirem ficar em uma galeria exclusiva.
– Em entrevista à Rádio Gaúcha, Gayer dá uma versão um pouco diferente para a mudança feita no Central. Segundo o diretor do presídio, não houve expulsão tampouco pedido pior galeria exclusiva: a decisão teria partido da administração da cadeia. "A direção da casa determinou e a gente decidiu tirar eles dali porque havia uma situação de conflito após essa morte (de Colete). Como nós acompanhamos o dia a dia da cadeia, sabemos que a consequência que isso poderia dar", contou.