Um dos denunciados pelos dois assaltos a bancos em Miraguaí, Leandro Royer, é o maior indicativo de que facções podem estar interessadas em aliciar recrutas em terras indígenas.
Ele foi reconhecido por testemunhas como um dos bandidos refugiados na reserva da Guarita e acabou preso em Carazinho, em março, na casa de outro quadrilheiro. Com eles, foram encontrados R$ 22 mil em espécie, guardados no fundo falso de um quarto onde os dois se escondiam — a polícia diz que é dinheiro do roubo.
Royer está envolvido em outro episódio rumoroso. Responde a processo criminal por ligação com um dos maiores grupos criminosos do Brasil, o Primeiro Comando da Capital (PCC), de São Paulo. A ação judicial, que julgará tráfico e assaltos planejados pela organização, corre na 2ª Vara Criminal de Ijuí. Royer está recolhido no presídio estadual da cidade, que também abriga a maioria dos réus do caso relacionado ao PCC.
A investigação que deu origem ao processo durou 11 meses e data de 2013. Resultou em 61 suspeitos identificados como colaboradores do bando paulista no Rio Grande do Sul. Desse total, 21 eram apenados em Ijuí, Uruguaiana, Carazinho, Passo Fundo, Santa Maria, Guaíba, Porto Alegre, São Luiz Gonzaga e Charqueadas.
Os criminosos faziam contatos com presos da Região Metropolitana e de outros Estados, negociando, principalmente, armas e drogas. Entorpecentes eram trazidos por um paraguaio direto do país vizinho e também de outras partes do Brasil. Para juntar dinheiro e auxiliar as famílias dos detentos, o grupo chegou a fazer até rifa de moto. Foram investigados também homicídios e roubos praticados pela facção.
Royer possui uma tatuagem em forma de carpa _ um peixe _, um dos símbolos do PCC. Ele admitiu ter sido convidado a fazer parte da organização. Ocupava a função de “Geral da Rua”, responsável pelas atividades criminosas do bando fora das cadeias, e, após ser preso, virou “Geral do Sistema”. Reportava-se a um dos líderes da facção no Estado sobre tráfico na região de Carazinho.
Royer e outros criminosos presos pelo roubo a banco em Miraguaí são investigados como possível ponte de tráfico entre o grupo paulista e uma das maiores facções gaúchas, Os Manos. São também suspeitos de uma série de assaltos em Carazinho e região, principalmente ataques a sacoleiros _ viajantes de ônibus que compram mercadorias no Paraguai e as revendem no Brasil.
CONTRAPONTO
O que diz Leandro Royer
Conforme o advogado Toni Musa Rosa, Royer alega que o dinheiro apreendido com ele em Carazinho era legal e, também, que jamais participou de assaltos em Miraguaí. O defensor não comentou sobre a suspeita de envolvimento do cliente com o PCC.