É final da noite em Porto Alegre. Pelo menos dois homens desembarcam de um carro em frente a um bar, em uma travessa da Avenida Plínio Kroeff com a Rua E, bairro Rubem Berta, no limite com Alvorada. Eles entram no estabelecimento, sacam suas pistolas 9 milímetros e .40 (restrita às forças de segurança) e, sem pronunciar uma única palavra, atiram nos frequentadores. Das cinco pessoas que se divertiam no local, apenas uma sobrevive.
O que aconteceu no final da noite de quarta-feira (15) faz parte da rotina no Estado. O Rio Grande do Sul é a segunda unidade da federação com maior registro de chacinas no país. Em 2016, foram 26 homicídios com três ou mais vítimas, deixando 90 mortos — no ano anterior, ocorreram 15 chacinas, com 50 mortos.
De acordo com o levantamento nacional que integra o 11º Anuário Brasileiro de Segurança Pública, somente o Rio de Janeiro, com 136 vítimas em 41 chacinas, está à frente na estatística que escancara o clima de guerra entre facções criminosas rivais. No ano passado, o RS ultrapassou São Paulo neste levantamento. Lá, houve metade das vítimas gaúchas neste tipo de homicídio.
A verdade é que quase sempre inocentes, atingidos por homens que disparam a esmo, morrem neste tipo de crime. Vivemos dias sombrios no Estado.
No ataque ao Bar da Esquina ocorrido no Dia da Proclamação da República — um dos assuntos mais lidos da Editoria de Segurança nesta quinta-feira (16) —, os bandidos agiram de forma implacável. Primeiro, balearam Dionatan Leandro Alves de Oliveira, 33 anos. Depois, dentro do estabelecimento, abriram fogo contra um adolescente de 16 anos, que morreu na hora. Osmar da Cruz Vieira, 40 anos, e Deivis da Cruz Vieira, 23 anos, correram para uma peça próxima do bar, mas não escaparam da morte. Foram alcançados e executados. Após a rápida ação, os matadores entraram no mesmo carro em que chegaram e fugiram. Uma das hipóteses apuradas pela Polícia Civil é de que o adolescente fosse o alvo dos matadores.
As chacinas têm relação direta com a disputa por territórios entre facções rivais. Com frequência, mata-se apenas para demonstrar força e disseminar o terror em comunidades. Entre as vítimas, se tiver integrantes de facções, melhor. É a lógica estúpida da guerra do tráfico. Mas a verdade é que quase sempre inocentes, atingidos por homens que disparam a esmo, morrem neste tipo de crime. Vivemos dias sombrios no Estado.