Após três meses de idas e vindas ao prédio do Departamento Médico Legal (DML), em Porto Alegre, a família de Lisyane Lopes conseguiu, na tarde de terça-feira (14), enterrar o corpo da adolescente assassinada aos 16 anos. A jovem foi sepultada em uma cerimônia de cerca de 15 minutos, com caixão fechado, no Cemitério São Miguel e Almas — onde também ocorreu o enterro do irmão dela, William Giovane Lopes Barcellos, morto em fevereiro aos 17 anos.
A família vinha enfrentando uma série de problemas burocráticos para enterrar Lisyane. A peregrinação da irmã dela, Lidyane Lopes, 20 anos, começou no dia 15 de agosto, quando um laudo do Instituto-Geral de Perícias (IGP) confirmou que era da adolescente o corpo encontrado incendiado no porta-malas de um HB20, no bairro Cascata, na zona sul da Capital.
A alegação do DML era de que só poderia liberar o cadáver com autorização da Justiça. A família procurou a Defensoria Pública, que em 24 de agosto encaminhou o caso ao Judiciário. No dia 8 de setembro, após parecer do Ministério Público, o processo foi para responsabilidade dos defensores. Só no dia 3 de novembro, após reportagem de GaúchaZH revelar a demora da liberação, houve nova movimentação do caso.
Em quatro dias, o juiz Antonio Carlos Nascimento e Silva, da Vara dos Registros Públicos, determinou a liberação do cadáver. Na decisão, ele afirmou que o caso requeria "urgência" e concedeu aos familiares o benefício da Assistência Jurídica Gratuita, além de determinar que a Central Funerária fizesse o traslado sem qualquer custo.
Apesar da decisão, não foi naquele dia que o sofrimento da família teve fim. O Judiciário não conseguia avisar os parentes sobre a liberação. A assessoria de imprensa do Tribunal de Justiça afirmou que a Vara dos Registros e a Defensoria Pública tentavam contato com a mãe da vítima, Fernanda Rodrigues Lopes, de 38 anos, mas não conseguiam com o número de telefone informado no processo.
Na segunda-feira (13), a reportagem de GaúchaZH avisou a irmã da vítima sobre a liberação, e só então a família conseguiu realizar os atos fúnebres.
Casos semelhantes e explicação do DML
Assim como o caso de Lisyane, há mais de 20 outros corpos carbonizados em Porto Alegre que dependem de identificação e liberação para a família.
Recentemente, foi divulgado o caso de Thiellen da Cruz Fernandes, 19 anos. Moradora de Canoas, ela foi assassinada e carbonizada em Gravataí. A família levou cinco dias para conseguir liberar o corpo.
O diretor do DML, Luciano Haas, ressalta que, na maioria dos casos em que as vítimas são carbonizadas, a identificação demora e não determina exatamente quem é a pessoa, mas parentescos. No caso de Lisyane, o perito só conseguiu confirmar que ela era filha de Fernanda. Como a mulher só teve duas filhas, e uma delas é Lidyane, por óbvio seria Lisyane a vítima. Por isso, o caso foi encaminhado ao Judiciário.
— Entendo a situação deles, que são leigos e não têm por que entender o funcionamento da perícia. O perito é responsável só por analisar o corpo, ver se tem tiro, algo que ajude na investigação. Ele não sabe o lado de fora, se tem filho, se estão forjando algo para ganhar herança. Exatamente por isso que a gente manda para o juiz — defende.
Haas admite que há defasagem de peritos no DML e no IGP, o que acaba atrasando a confecção de alguns laudos.
Relembre o caso Lisyane
O corpo de Lisyane Lopes foi encontrado incendiado no porta-malas de um HB20 no bairro Cascata, na zona sul de Porto Alegre, na noite de 22 de julho. A jovem estava desaparecida desde a tarde do mesmo dia, quando foi vista pela última vez embarcando em um carro com as mesmas características no bairro Bom Jesus, na zona leste, mesmo bairro onde morava.
Ela estava na casa do namorado antes de embarcar no veículo. Amigos e parentes não sabem afirmar com quem ela saiu.
Até hoje, a morte da menina é tida como um caso de difícil solução para a investigação da 1ª Delegacia de Homicídios de Porto Alegre. Um suspeito foi identificado.