Além do emprego na área de telefonia, a rotina de Miguel Antônio Moura Meireles, 38 anos, envolvia treinos físicos diários e cuidados com a alimentação. Depois do trabalho, em Porto Alegre, ele seguia para Gravataí, onde ainda ia para a academia.
Na noite de terça-feira, quando retornava para casa, foi baleado durante um assalto a ônibus. O disparo aconteceu nas proximidades da parada onde costumava desembarcar. Alvejado na cabeça, o vendedor morreu na noite desta quarta-feira (11).
Um amigo próximo acredita que, por seu porte físico, cerca de 1m80cm de altura, o português pode ter sido confundido com um segurança ou mesmo um policial.
Filho de uma brasileira e de um português, Meireles deixou seu país de origem há cerca de quatro anos na tentativa de fugir da crise em Portugal. Mudou-se para o Brasil em busca de novas oportunidades. Um emprego na área de marketing, na qual ele era formado, levou o estrangeiro a optar por Gravataí para ser sua nova morada.
Alguns meses depois, a companheira dele, uma brasileira natural de Minas Gerais, também se mudou para a cidade. Antes disso, os dois já moravam juntos em Portugal, onde se conheceram.
Foi nesse período que Isaías dos Santos, hoje com 37 anos, tornou-se vizinho de Meireles. Os dois residiam no bairro Santa Fé, em Gravataí. O amigo lembra que nessa época o amigo estava cheio de planos. Apaixonado por cozinha, o português sonhava em um dia montar algum negócio na área da gastronomia.
A situação econômica no Brasil, no entanto, fez Meireles mudar de planos. Há alguns meses, passou a planejar o retorno para Portugal, onde moram os pais e uma irmã.
— Ele estava desiludido com a região. Estava juntando dinheiro para voltar ao país de origem e montar algum negócio. Ele sempre teve esse espírito empreendedor — conta.
Santos não reside mais no bairro Santa Fé, mas há duas semanas havia encontrado com o amigo. Os dois conversaram por cerca de uma hora. Atualmente, Meireles trabalhava na área de vendas de uma empresa de telefonia, em Porto Alegre.
— Ele me contou do trabalho. Ele era muito de ajudar as pessoas, os colegas. A gente nunca imagina que vai ser a última vez que vai falar com um amigo.
Na noite do assalto, o comerciante suspeita que o amigo pode ter sido confundido pelos assaltantes, possivelmente no momento em que se levantou para descer do ônibus. Sempre que entrava no coletivo, o português, bastante comunicativo, cumprimentava a todos.
Depois, costumava sentar-se com o celular na mão. O disparo aconteceu nas proximidades da parada onde ele deveria desembarcar.
— Não estava junto, mas creio que pelo porte dele e pelo fato de estar com fone de ouvido, o criminoso pode ter imaginado que era um policial ou segurança. Ele levantou e foi onde tudo aconteceu.
Corpo deve ser enviado a Portugal
Quando soube, na terça-feira, que o amigo tinha sido baleado, o comerciante correu até o Hospital Dom João Becker, em Gravataí. Meireles permaneceu hospitalizado até a noite desta quarta-feira na Unidade de Tratamento Intensivo (UTI), mas não resistiu. Em choque, a companheira do português precisou de ajuda:
— É muito complicado alguém vir de outro país para morrer aqui dessa forma. Ele era um trabalhador — diz Santos.
O contato com a família em Portugal teve de ser feito com muito cuidado, já que o pai do vendedor sofreu um infarto recentemente. O objetivo agora é conseguir, por meio da Embaixada, que o corpo de Meireles seja encaminhado ao país de origem para que seja realizado o sepultamento. O latrocínio é investigado pela Polícia Civil e, até o momento, ninguém foi preso.