O diretor do Departamento de Polícia do Interior (DPI) do Rio Grande do Sul, delegado Fernando Sodré, afirma que a Polícia Civil acompanha com preocupação o investimento das facções criminosas em armamentos como os recolhidos pela Receita Federal em Cascavel, no Paraná. Sete fuzis, seis deles de fabricação americana e um israelense, considerado de primeira linha, foram apreendidos com um casal de Lajeado, no Vale do Taquari.
— Temos monitorado isso há algum tempo. A gente sente que há uma migração de uma certa criminalidade violenta para o Interior. Em alguns locais as facções estão mais instaladas. Isso vem a partir do sistema prisional — diz.
Em Lajeado, segundo o delegado Juliano Stobbe, responsável pela Delegacia de Polícia Civil da cidade, o ingresso das facções criminosas no tráfico de drogas alavancou o número de homicídios — 19 foram mortos até agora. Enquanto em todo o 2016 foram 21 casos — sendo 17 até até 29 de setembro. Sobre os fuzis que iriam para a cidade de 79 mil habitantes, Stobbe alerta:
—É um calibre de guerra. Tem alto poder lesivo. Isso faz com que a polícia redobre as atenções, sem dúvidas.
O casal preso no Paraná, segundo Stobbe, tem antecedentes, inclusive por tráfico, mas a polícia não tinha até então informações de que eles pudessem estar operando na venda e transporte internacional de armas para o grupo criminoso gaúcho. É apurado também a informação de que outro veículo, carregado com fuzis, teria conseguido completar o trajeto e chegar ao município.
— Essa facção tem um braço bastante estabelecido aqui na cidade e na região. Todos os indícios apontavam que eles estariam se armando ainda mais para dominar outras áreas do crime, que não somente o tráfico de drogas. E tudo isso se confirma no momento em que se apreendem sete fuzis de última geração a caminho daqui — diz o delegado.
Disparos em Santa Cruz
Em Santa Cruz do Sul, no Vale do Rio Pardo, a 60 quilômetros de Lajeado, no início de setembro, a equipe da Delegacia Especializada em Furtos, Roubos, Entorpecentes e Capturas (Defrec) apreendeu um fuzil 308 junto com 54 quilos de maconha em uma residência do município. No município, onde o tráfico de drogas é dominado desde 2012 pela mesma facção que teria adquirido as armas no Paraguai, a polícia apura dois episódios envolvendo disparos de fuzil.
O caso mais recente aconteceu na noite de quarta-feira (27). Por volta das 21h, criminosos em um veículo teriam atirado diversas vezes com armamento de calibre 556 contra a fachada de um prédio, no bairro Goiás. No fim de semana, a casa de uma advogada na área central foi alvo de dois ataques com fuzil do mesmo calibre. Foram disparados cerca de 40 tiros que acertaram as paredes da residência e um veículo que estava na garagem.
Até o ataque à casa da advogada, conforme a delegada Ana Luísa Aita Pippi, da 1ª Delegacia de Polícia de Santa Cruz do Sul, não se tinha registro deste tipo de crime no município. No prédio atacado na quarta-feira não havia moradores, embora o imóvel estivesse alugado. A delegada confirmou que os dois crimes estão ligados, mas preferiu não fornecer detalhes da investigação neste momento.
Todos os indícios apontavam que eles estariam se armando para dominar outras áreas do crime. E tudo isso se confirma no momento em que se apreendem sete fuzis de última geração a caminho daqui
Juliano Stobbe
Delegado de Polícia de Lajeado
Roubos a bancos
Além das disputas pelo domínio do tráfico, outro crime no qual os grupos empregam armamentos pesados no Interior são os ataques a bancos. Segundo o delegado Joel Wagner, da Delegacia de Roubos do Departamento Estadual de Investigações Criminais (Deic), embora não exista confirmação de que as armas poderiam ser destinadas a esses grupos, não é descartada a possibilidade.
_ São armas também empregadas no tráfico. Mas claro que se na origem se fala numa facção criminosa nada impede que outros grupos aluguem ou até mesmo comprem essas armas para atuação em roubos a bancos ou em outros delitos _ afirma.