Antes de ser executado, o motorista do Uber Deivisson Pontes Ferreira, 28 anos, alertou amigos pelo WhatsApp que os homens que solicitaram a ele uma corrida informal preparavam uma emboscada. Em um áudio de 23 segundos, ele pediu para que os conhecidos ficassem atentos, pois ele não confiava nos três passageiros daquela que foi sua última corrida.
– Te liga só na caminhada. Eu tô indo ali na Cohab fazer uma corrida para o irmão do Mauro. Ele me chamou para ir lá. Só para ficar esperto aí. Eu não confio muito naqueles caras, aqueles caras lá da Embratel – disse o motorista na sua última fala com amigos.
O áudio foi fundamental para o transcorrer da investigação. Por meio dele, os policiais puderam começar a apuração, que levou a identificação de três dos envolvidos e a prisão de um deles no final da tarde de terça-feira (1º).
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O motorista já conhecia os homens que pediram sua viagem. Ele fazia alguns serviços por fora para eles. A polícia investiga se a vítima transportava drogas para os traficantes do Morro da Embratel. No entanto, para a polícia, não foi isso que motivou o crime. De acordo com o delegado Eibert Moreira Neto, da 4ª Delegacia de Homicídios, trata-se de um crime passional.
– O motivo é a desavença entra a vítima e um presidiário, irmão do atirador. É que o motorista do Uber teria se aproximado da mulher do detento – comenta Moreira Neto, que preferiu não dar detalhes do que seria a relação entre a vítima e a mulher.
No entanto, de acordo com o delegado, a família e os amigos já desconfiavam que isso teria motivado o crime.
– Essa motivação veio de todo o conjunto de provas, de todos que foram ouvidos no inquérito. Todas elas relataram esse problema existente entre a vítima e o preso, que teria mandado o irmão matar – revela o delegado titular da 4ª Delegacia de Homicídios.
O preso, que cumpre pena por outro homicídio,pediu que o irmão armasse a execução. Do lado de fora da cadeia, o irmão do detento preparou a emboscada. Ele ligou para o motorista, pedindo uma viagem fora do aplicativo no Conjunto Habitacional do bairro Cavalhada. De lá, o motorista dirigiu até o Beco Pedro Rodrigues Bitencourt, no bairro Vila Nova, onde foi atingido por vários tiros.
Depois de matarem Ferreira, os criminosos fugiram deixando no local em um Gol preto emplacado em Santa Catarina. Eles levaram carteira e celular da vítima. Para a polícia, isso não configura latrocínio (roubo com morte), já que o objetivo dos criminosos era que o telefone não fosse encontrado pela polícia. A localização facilitaria o trabalho dos investigadores. Os bandidos não contavam, no entanto, com o alerta da vítima.
– Eles queriam, de alguma forma, atrapalhar a investigação. Foi um mecanismo que ele usou para dificultar a chegada ao nome dele – detalha Moreira Neto.
O delegado já tem o nome dos principais envolvidos. O preso que teria ordenado a execução já está cumprindo pena por outro homicídio. O irmão dele é considerado foragido, já que contra ele há um mandado de prisão temporária em aberto. Falta identificar ainda o terceiro homem que estava no carro.
A polícia garante ter uma série de provas da participação dos homens identificados no crime. O inquérito deve ser remetido ao Poder Judiciário nos próximos dias. O delegado está finalizando o documento, e colhe outras provas antes de terminá-lo.