Durou menos de dois minutos o arrastão em uma churrascaria no bairro Santana, em Porto Alegre, na noite de terça-feira (17). Tempo suficiente para dar grande prejuízo aos frequentadores e provocar trauma também nos funcionários. Em 17 anos, o restaurante jamais havia sido assaltado e, nessa primeira vez, teve o bem mais precioso atacado: os clientes.
Era por volta de 21h quando um Cordoba preto estacionou em frente à Churrascaria e Pizzaria Santana, na esquina das ruas Santana e Leopoldo Bier. As mais de 30 pessoas que estavam no local não sabiam, mas o carro havia sido roubado de um casal que guardava as compras no estacionamento externo de um supermercado na Zona Sul. Enquanto colocavam a filha na cadeirinha, foram abordados por criminosos armados e tiveram o veículo levado.
Quando chegaram à churrascaria, três dos cinco criminosos desceram do carro. O que vestia moletom e boné claros tomou a frente e anunciou o assalto, apontando a arma ao entrar no estabelecimento.
Câmeras de seguranças flagraram o ataque; assista:
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A promotora de vendas Daniela Sodré Netto, 39 anos, pela primeira vez no local, estava sentada de frente e perto da porta. Viu de imediato o ataque. Logo em seguida, outros dois ladrões, também armados, vestindo casacos escuros, iniciaram o arrastão.
– Fiquei como se nada estivesse acontecendo – conta Daniela. – Pediram para ninguém se mexer, que não iam machucar ninguém. Durante todo o ataque, permanecerem bem calmos.
De início, outros clientes seguiram comendo pizza e carne e bebendo cerveja, enquanto os garçons serviam as mesas. Segundo um dos funcionários, somente após o criminoso anunciar o assalto pela terceira vez é que todo mundo se deu conta do que estava acontecendo.
Bolsas, celulares, carteiras e joias foram arrancados das vítimas e colocados nos bolsos dos casacos dos ladrões. Um dos funcionários da churrascaria confirma que a ação foi "tranquila", mas que não pouparam ninguém.
– Eles (assaltantes) não falavam nada. Só que queriam que passassem as bolsas, celulares, tudo. Inclusive tinha um cliente, com jaqueta de couro, e eles o fizeram tirar para ver se tinha alguma corrente – relatou o homem, que pediu para não ser identificado.
Daniela conta que, quando chegou a sua vez, levantou as mãos e deixou que levassem o que quisessem. No seu caso, foi o notebook, o celular e documentos que estavam em uma pasta. Prejuízo financeiro estimado em mais de R$ 7 mil, sem contar as perdas pessoal e profissional, devido ao conteúdo dos equipamentos.
– Estou triste, porque perdi bens materiais, que custei para adquirir. E uns sacanas desses te roubam tudo em questão de minutos. E o pior: tem que agradecer por não estar morta – lamenta a promotora de vendas.
Depois de recolherem todos os pertences dos clientes, os bandidos foram até o caixa da churrascaria e pegaram o dinheiro. A quantia era baixa, já que o estabelecimento recebe a maioria dos pagamentos em cartão.
Após o arrastão, Daniela e os demais clientes iniciaram a saga de ir para casa – avisar familiares, chamar carona ou acionar o guincho, porque muitas das chaves de veículos foram levadas. Um grupo de cerca de 15 pessoas que comemorava um aniversário decidiu seguir com a celebração. Segundo Daniela, depois do assalto, cantaram parabéns e terminaram a janta. A aniversariante, conforme a polícia, seria de Caxias do Sul.
Investigação busca suspeitos
Conforme o delegado Cesar Carrion, responsável pela investigação, imagens de câmeras de segurança estão sendo procuradas e analisadas, além de ir atrás de outras testemunhas. Os assaltantes fugiram em direção à zona sul da Capital. Por enquanto, não há suspeitos. A única pista é o Cordoba roubado, que, até agora, não foi localizado.
De acordo com Carrion, em princípio, o assalto com reféns em um bar na Cidade Baixa, ocorrido cerca de 40 minutos depois, não tem relação com o caso da churrascaria. No Eletrola Bar, na Rua da República, o ataque foi conduzido por apenas um rapaz, que teria chego e saído a pé, e que estaria bastante assustado, quase "transtornado", conforme um dos proprietários feito refém. Ele e outro sócio, além de um cliente, foram trancados no banheiro durante a ação.
– As duas ações foram bem diferentes entre si, não estamos considerando que tenham relação – concluiu o delegado.