A investigação da PF aponta para um conluio entre os ginecologistas e obstetras Alfonso Aquim Vargas e José Solano Barreto de Oliveira, presos em Itaqui por cobrança de cesarianas e laqueaduras feitas pelo SUS. Depois que Solano foi descredenciado do Hospital São Patrício, foi trabalhar em um posto de saúde. De lá, encaminharia as pacientes para Alfonso. A polícia acredita que eles dividiriam o lucro. Um dos elementos que levam a PF a acreditar nessa associação é um vídeo feito a pedido dos agentes por uma gestante, com uma câmera escondida. Ao consultar com Solano, ele a encaminha para o colega, dizendo que Alfonso provavelmente cobraria R$ 1,5 mil por uma laqueadura.
Em outra gravação, da consulta com Alfonso, o médico confirma o valor à paciente, mas revela dificuldades com o anestesista. Conta que anteriormente era fácil, havia combinação com um profissional da área, mas que agora tinha chegado um novo e que a paciente teria de ver se ele concordava em fazer a laqueadura e quanto cobraria. Um terceiro vídeo mostra que, quando a mulher procura esse médico, ele fica espantado com a história e chama o diretor do hospital. Depois disso, Alfonso foi afastado.
Com base em provas que considera "muito robustas", Ana Gabriela pediu a prisão preventiva de Solano e Alfonso. Também solicitou a prisão do anestesista que estaria envolvido no caso – figura conhecida em Itaqui –, o que foi negado pela Justiça Federal. As provas contra ele são mais frágeis, pois as vítimas sempre faziam o pagamento aos obstetras. Mesmo assim, Ana Gabriela está convencida do envolvimento desse terceiro médico, indiciado pelos mesmo crimes dos outros dois.
Leia mais:
Os relatos das mães que deram à luz com médicos presos em Itaqui
Prisão de médicos obstetras domina as rodas de conversas em Itaqui
Investigação contra médicos só foi aberta quatro anos após denúncia anônima
Em 13 anos, médicos presos em Itaqui teriam faturado R$ 1,6 milhão
– O anestesista ganha um salário fixo. Recebe o mesmo, não importa o número de cesarianas que fizer. Então, por que concordaria em trabalhar dessa forma, sem ganhar nada a mais por isso? E, no caso da laqueadura, ele naturalmente recebia, porque não tem como não saber que está fazendo esse procedimento e que ele não está constando do prontuário médico – argumenta a delegada.
Alfonso e Solano podem pegar pena máxima de 25 anos, o mesmo valendo para o anestesista. A secretária que foi indiciada está implicada em menos crimes.
Clique nas imagens abaixo e veja os relatos de vítimas dos médicos investigados:
Leia também:
Dois médicos são presos por cobrar partos cobertos pelo SUS em Itaqui
Vídeo mostra médicos cobrando por partos cobertos pelo SUS em Itaqui
CONTRAPONTOS
O que dizem Alfonso Aquim Vargas e José Solano Barreto de Oliveira
Nos depoimentos que deram depois da prisão, negaram todas as acusações, exceto a realização de laqueaduras durante as cesarianas, que disseram ter feito sem cobrar. Não explicaram porque esses procedimentos não eram registrados nos prontuários das pacientes. A defesa dos médicos informou que eles não vão se manifestar por enquanto.
O que diz o Hospital São Patrício
Em nota, informa que "repudia qualquer forma de procedimento ilegal e continua à disposição para contribuir com as investigações".
_________________
OS CRIMES
Corrupção
- Os médicos – dois obstetras e um anestesista – foram indiciados por corrupção por serem funcionários públicos cobrando valores irregulares. A secretária foi indiciada por participação em corrupção.
Associação criminosa
- A Polícia Federal (PF) entendeu que os quatro indiciados se associaram de forma organizada com fins de cometer crimes.
Estelionato
- O crime teria sido cometido por causa de falsificação de documentos, como os prontuários em que se dizia que as gestantes necessitavam de cesariana, quando isso não correspondia à verdade. A secretária não entra nesse crime.
Esterilização cirúrgica ilegal
- A realização de laqueaduras durante cesarianas, que teriam sido realizadas clandestinamente pelos médicos, não é permitida pela legislação. A secretária também está isenta desse crime.