No quinto dia de paralisação da Polícia Militar no Espírito Santo, o movimento ainda era pequeno nas ruas de Vitória na manhã desta quarta-feira. Com o transporte público e as aulas suspensos, poucas pessoas são vistas nas calçadas. Assustadas com a violência, as famílias preferem se trancar em suas casas. O número de mortes violentas na Grande Vitória subiu para 95 nesta quarta-feira.
A informação foi confirmada pelo presidente do Sindicato dos Policiais Civis do Espírito Santo, Jorge Leal. Segundo ele, as planilhas deixaram de ser atualizadas nesta manhã.
– Estou recebendo a informação de policiais de que houve a determinação para que parassem de atualizar os dados. Não foi uma ordem explícita, mas uma ordem velada que partiu do governo. Estamos tentando obter os dados extraoficialmente – afirmou Leal.
Ainda de acordo com o presidente do sindicato, 60 carros foram roubados ou furtados até o meio-dia desta terça-feira. Na véspera, tinham sido 200. A média diária para o Estado é de 20 veículos roubados.
A Secretaria de Estado da Segurança Pública (Sesp) ainda não divulgou balanço, mas em entrevista coletiva publicada ao vivo na página do governo do Estado no Facebook o secretário da pasta, André Garcia, afirmou que "todas as mortes estão na conta" do governo e que o foco agora é "resolver o problema". Garcia afirmou ainda que quando as Forças Armadas passaram a patrulhar as ruas, "as ocorrências despencaram".
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Leal está no velório do investigador Mário Marcelo Albuquerque, morto nesta terça-feira, em Colatina, noroeste do Espírito Santo. Ele e um colega chegavam à localidade de Baunilha, quando viram um homem sofrendo assalto. Albuquerque reagiu e foi atingido. A região de Colatina também está sem policiamento por causa do motim da PM.
– A culpa não é da paralisação dos policiais militares, mas dessa política do governo, de não valorizar a Segurança Pública. As polícias estão sucateadas, não temos policiais suficientes e o governo não concede nem o direito trabalhista que é a recomposição salarial. Estamos sem aumento salarial há sete anos, e há quatro não temos nem sequer o reajuste da inflação. Isso gerou esse clima de insegurança. É uma tragédia anunciada e o governador não dialoga – afirmou Leal.
O patrulhamento na capital capixaba, que desde a noite de segunda-feira é feito por soldados do Exército, também é reduzido. O comércio na cidade vai sendo retomado aos poucos. A Federação do Comércio avalia o prejuízo em pelo menos R$ 110 milhões (R$ 20 milhões de saques e R$ 90 milhões em vendas perdidas). Ao todo 270 lojas foram roubadas nos quatro primeiros dias de paralisação.
Por meio de suas famílias, os PMs continuam tentando negociar com o governo a volta ao trabalho. Nesta quarta deve haver nova reunião entre as partes. O governo sustenta que não vai negociar enquanto os policiais não voltarem a seus postos.
O Ministério Público Estadual constituiu nesta terça-feira um comitê de gestão de crise para garantir o cumprimento voluntário da decisão judicial sobre a greve. A Justiça capixaba já considerou a paralisação ilegal.
A categoria reivindica reajuste salarial e denuncia falta de pagamento de auxílio-alimentação, adicional noturno e por periculosidade, além de más condições da frota de veículos empregada no patrulhamento. Familiares de PMs seguem posicionados na frente de batalhões na Grande Vitória e em cidades do interior para impedir a saída dos PMs e de carros.
A sensação de insegurança é grande, e os cidadãos se dizem reféns dos criminosos. O número oficial de mortos supera 75 desde o início do movimento. Nas redes sociais, há relatos de vizinhos que contrataram segurança armada para seus prédios, como forma de afastar assaltantes.
*ZH com informações do Estadão Conteúdo