O governo de Roraima deve oficializar, nesta segunda-feira, o pedido de envio da Força Nacional de Segurança para o Estado. Roraima vive uma crise no sistema carcerário após a morte de 33 detentos na Penitenciária Agrícola Monte Cristo, na zona rural de Boa Vista. Com capacidade para 750 presos, a unidade abriga mais de 1,4 mil detentos
Em sua página no Facebook, a governadora Suely Campos informou que conversou com o ministro da Justiça, Alexandre de Moraes, no domingo, e ele afirmou que, em poucos dias, deve enviar o apoio necessário para garantir a ordem pública e enfrentar a tensão instalada na Penitenciária de Monte Cristo.
Em nota, a assessoria do ministério diz que "o ministro já determinou que a Secretaria Nacional de Segurança Pública providencie o imediato apoio ao Estado".
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Em novembro do ano passado, o governo de Roraima chegou a solicitar a presença da Força Nacional após a morte de 10 detentos na mesma penitenciária, mas o pedido foi negado.
Para a professora Aldenizia Laranjeira, a presença da Força Nacional vai trazer mais segurança porque, "a população, no popular, está cabreira, com medo.
– Medo de rebeliões, de esses presos saírem das cadeias, saírem matando todo mundo, fazendo reféns. Se a governadora tá pedindo ajuda do ministro da Justiça, ele tem por obrigação ajudar o Estado – afirma.
Trinta e três detentos morreram na penitenciária agrícola, na madrugada da última sexta-feira, mas dois desses mortos só foram encontrados na tarde de sábado, após a denúncia de familiares, como a dona de casa Simone Alves, de 24 anos.
– Vocês não sabem o meu sofrimento de saber que o meu marido está enterrado em um buraco dentro da cozinha e ninguém faz nada. A polícia fecha os olhos. O que está faltando, meu Deus, para vocês entrarem e procurarem o meu marido, o que tá faltando? – desabafou a mulher.
O trabalho de necropsia foi encerrado, no domingo, e quase todos os corpos já foram entregues aos familiares. As exceções são os corpos de um venezuelano e um rondoniense que ainda não foram entregues por falta de documentação. Ainda há o corpo de um detento, que não foi reclamado pela família.
Prisão domiciliar
A Justiça de Roraima concedeu prisão domiciliar aos detentos do regime semiaberto do Centro de Progressão Penitenciária (CPP). O pedido foi feito pela Comissão de Direitos Humanos da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB). A medida vale até o fim desta semana. Com isso, desde o domingo, os detentos não precisam se dirigir à unidade para dormir. Eles devem ficar em casa.
O documento é assinado por 23 reeducandos e pelo diretor do CPP, Wlisses Freitas da Silva, e informa "a impossibilidade de garantir a segurança dos presos e dos servidores que trabalham naquela unidade prisional".
Segundo a OAB, os presos estariam sofrendo "ameaças diárias de morte, inclusive, de facções do crime organizado". O documento leva em consideração relatos de presos provisórios que afirmam ser alvo da próxima tragédia no sistema carcerário.
O medo não está apenas no CPP. A professora Aldenizia Laranjeira revela a sensação de insegurança vivida na cidade. Segundo a moradora de Boa Vista,
– Algumas farmácias, alguns comércios fecharam mais cedo, por medo de rebeliões, de esses presos saírem aí das cadeias, saírem matando todo mundo, fazendo reféns, e a sensação de morte, muito triste, nunca tinha acontecido isso aqui em Roraima – relata.
O Centro de Progressão Provisória sofre com o baixo efetivo de servidores. São, no máximo, quatro agentes por dia para prestar segurança a 160 presos, além dos que cumprem pena na Casa do Albergado e que assinam frequência no CPP, totalizando um fluxo de quase 500 detentos. Os agentes penitenciários reclamam ainda da falta de armamento adequado e suficiente para todos.