Ao investigar um grupo de 15 a 20 caminhoneiros, a Polícia Federal descobriu um esquema de tráfico de drogas que envolvia até uma transportadora de fachada em Porto Alegre. A empresa subcontratava os motoristas, que carregavam de soja a eletrodomésticos, para trazer até 400 quilos de cocaína por mês da fronteira do Paraguai até o Rio Grande do Sul.
Desarticulada em uma ação dos agentes federais nesta sexta-feira, a quadrilha era liderada por um empresário cujos sítios sediados em Viamão serviam de depósito para a droga.
Além de realizar o transporte, os motoristas tinham o nome utilizado pelo empresário para constarem como proprietários dos caminhões. A investigação apontou que veículos eram comprados pelo traficante e revendidos após serem usados para duas ou três viagens com drogas.
Batizada de Argus, a operação é uma das maiores da PF no Estado, cuja investigação já dura um ano e culminou na apreensão de 1,2 tonelada de drogas, incluindo cocaína e maconha. Fabricada no Peru e na Bolívia, a droga era estocada no Paraguai, de onde um dos maiores narcotraficantes da América do Sul Jarvis Chimenes Pavão, que está preso, gerencia o comércio para a fronteira com o Mato Grosso do Sul. De lá, partiam caminhões com a droga escondida em fundos falsos até Águas Claras, no interior de Viamão.
No município da Região Metropolitana, uma facção criminosa era responsável por levar de carro, em carregamentos de 20 a 30 quilos, a droga para o Vale do Sinos e o Vale do Taquari.
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Além do empresário, que utilizava a transportadora de fachada para lavar o dinheiro do tráfico internacional, a polícia tem mandado para prender mais 23 pessoas até o fim do dia – nove delas no Estado, três no Mato Grosso do Sul, uma no Paraná e uma no Paraguai.
Para o delegado responsável pela Operação Argus, Roger Soares Cardoso, no entanto, mais importante do que as prisões foi a apreensão estimada em R$ 20 milhões, fruto do sequestro de 13 imóveis, 23 caminhões, 20 veículos e do bloqueio de contas de 27 pessoas.
– Prender não resolve, porque 100% deles voltam a atuar no tráfico. Mais expressivas são as apreensões, porque desfazem o poder financeiro do grupo criminoso e isso, sim, pode desarticular a quadrilha – destaca o delegado, acrescentando que um dos presos desta sexta-feira já tinha sido capturado há 10 anos.
– Naquela vez, ele também foi detido por tráfico, mas por quantidades bem menores de droga.
Em Campo Bom, a polícia ainda descobriu uma renda de veículos de fachada, utilizada pela facção criminosa da Região Metropolitana, para lavar dinheiro.
A Polícia Federal não divulga nenhum nome de investigados ou empresas para não atrapalhar o andamento das investigações.
O nome da operação
Na mitologia grega, Argus Panoptes foi um gigante de cem olhos que nunca dormia e que foi transformado em pavão pela deusa Hera.
A origem da Operação Argus
As investigações, iniciadas há um ano, começaram a partir de informações levantadas em duas operações realizadas em 2014.
Operação Suçuarana: foi realizada em maio de 2014 e desarticulou uma organização criminosa. Conforme a PF, a cocaína vinha da Bolívia de avião e chegava ao Paraguai, onde atravessava para o Brasil via terrestre até Ponta Porã – lá existia um laboratório de refino. O entorpecente era embalado e transportado para Dourados (MS) e seguia em fundos falsos de caminhões para quatro Estados: Rio Grande do Sul, São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais.
A cocaína apreendida era destinada ao argentino radicado em Gravataí Aldo Fabian Vignoni, 44 anos, descrito como uma pessoa discreta, mas que já estava na lista dos traficantes da PF por ter sido pego na Operação Maré Alta, em 2010.
O grupo de Vignoni distribuía cocaína e maconha. Tinha, em nome de laranjas, duas revendas de veículos usados em Porto Alegre, várias casas em condomínio em Gravataí e um apartamento na área central de Gramado, na Serra, no valor de R$ 780 mil. Todos os bens da quadrilha – incluídos aqueles em Mato Grosso do Sul e no Paraguai – somam R$ 30 milhões. Uma parte deles foi apreendida pela PF.
Operação Panóptico: em abril de 2014, a PF desarticulou um bando era chefiado de dentro de um presídio em Assunção, capital do Paraguai.
Conforme as investigações, a cocaína era encomendada na Bolívia pela quadrilha liderada pelo brasileiro Jarvis Chimenes Pavão, preso na Penitenciária de Tacumbu, em Assunção. Após chegar ao Paraguai, era receptada em Ciudad del Este (na fronteira com o Brasil) por dois gaúchos, que dali faziam a droga atravessar a fronteira e ir para o Rio Grande do Sul, onde era redistribuída em células em Novo Hamburgo (Vale dos Sinos) e Santa Cruz do Sul (Vale do Rio Pardo).
Na medida em que as cargas eram interceptadas, e traficantes presos, a quadrilha mudava o modo de agir. Depois da apreensão de um motor-home, os criminosos passaram a remeter drogas em carros. Como o garrote prosseguiu, o bando planejou usar uma aeronave boliviana para o transporte de 200 quilos de cocaína, que seriam arremessados em uma propriedade em Mostardas, ação que acabou não se concretizando.
*Zero Hora