Os traficantes que costumeiramente usavam pombos para distribuir drogas em presídios modernizaram-se. Hoje, os bandidos utilizam-se de drones na tentativa de trapacear a lei.
Foi o que revelou uma operação comandada pelo Ministério Público (MP), em parceria com a Brigada Militar (BM) e a Polícia Civil, realizada nesta sexta-feira no noroeste gaúcho. A investigação chegou a uma quadrilha que usava o instrumento controlado remotamente para entregar entorpecentes no Presídio Estadual de Santa Rosa. Há a suspeita de que o drone também tenha sido usado para remessa de droga a domicílio - o que ainda não se confirmou.
A ação cumpriu 36 mandados de prisão preventiva e 83 de busca e apreensão nas cidades Cerro Largo, Charqueadas, Horizontina, Ijuí, General Câmara, Santa Rosa e Santo Ângelo, depois de uma investigação que durou cinco meses, feita pelo núcleo Alto Uruguai do Grupo de Atuação de Combate ao Crime Organizado (Gaeco).
Inicialmente, as autoridades pensaram se tratar de uma grande quadrilha especializada no tráfico de drogas. No entanto, ao longo da apuração, descobriram ser, na realidade, de oito grupos de médio e pequeno porte.
Leia mais:
Quanto vale uma vida? Quatro histórias do crime que assusta o RS
De WhatsApp a apito: veja dicas de segurança para evitar latrocínios
Estado pode terminar 2016 com número recorde de latrocínios
Quatro deles eram chefiados por presos do regime fechado de Charqueadas e Santo Ângelo, que intermediavam o fornecimento de drogas nas cidades onde os mandados foram cumpridos.
O promotor de Justiça José Garibaldi Simões Machado, coordenador do Gaeco no Alto Uruguai, conta que, durante as investigações, surgiu a suspeita de que um dos grupos usasse de drones para transportar drogas ao presídio porque não se conseguia identificar quem entregava os entorpecentes aos apenados - o que se confirmou na manhã desta sexta-feira. Na casa de um dos presos, em Santa Rosa, a polícia apreendeu o equipamento com um dispositivo para liberar objetos em pleno voo. Junto do drone, havia drogas que, acredita Garibaldi, seriam levadas para a penitenciária do município.
- É uma pessoa a menos que os criminosos precisaram para atingir os seus objetivos, porque, muitas vezes, seria necessário cooptar alguém para levar a droga até a casa prisional - observou o promotor.
Para o MP, esse representa o primeiro caso de atuação em que se constatou o uso do veículo aéreo não tripulado para transportar entorpecentes. O subprocurador-Geral de Justiça para Assuntos Institucionais, Fabiano Dallazen, destaca que a tecnologia vem sendo adotada para evitar os meios tradicionais:
- A tecnologia traz coisas boas, mas também é empregada de forma perniciosa. O caso serve de alerta para que se passe a vigiar mais a utilização desses meios. Há circunstâncias em que chegavam a utilizar de pombos para transportar drogas e celulares. Agora, você tem um aparelho com um custo não tão elevado diante da prática criminosa muito rentável e que também dificulta uma prisão porque, sendo detectado, se tem dificuldade de identificar quem está o controlando.
Relembre outros casos em que o crime utilizou drones:
Antes de assaltos a condomínios em SP
Em março, a polícia paulista apreendeu um drone em uma operação para prender suspeitos de roubos de casas em condomínios de luxo em Mogi das Cruzes e no Vale do Paraíba. O equipamento era usado para monitorar os condomínios antes dos assaltos.
Para monitorar ação da polícia no RS
A Polícia Civil de São Leopoldo, na Região Metropolitana, prendeu, em abril, uma quadrilha que usava drones e um helicóptero de brinquedo com câmeras para monitorar locais de distribuição de drogas e a movimentação policial.
Para distribuição de celulares em presídio na BA
Em junho, um drone que sobrevoava um presídio na região sul da Bahia foi derrubado a tiros pela Polícia Militar. O instrumento transportava 19 celulares, cartões de memória, chips e carregadores.