– E vou dizer outra: em função do poço, que não é o bicho, que nós "temo". Se descobriu lá pedaço de ferro, cano amarrado com fio de luz, é dali que veio o problema.
A afirmação é do químico Marcelo Colling, da empresa Do Campo Branco, feita em uma ligação para o sócio da marca, Paulo Vivian, divulgada pelo Ministério Público (MP). A empresa foi alvo, na manhã desta quinta-feira, da Operação Gota D'Água, que desvendou um esquema criminoso que consistia na venda de água mineral em condições impróprias para consumo humano.
Na conversa, o químico fala ainda que é preciso encontrar uma justificativa para esclarecer o problema nos produtos que deve ser usada por todos.
– Vamos alinhavar e falar tudo a mesma coisa, vamos combinar – diz. – Porque, sinceramente, toda a verdade não dá pra contar – acrescenta.
Leia mais:
MP orienta consumidor a devolver produtos de lotes contaminados
Operação combate comércio de água contaminada com bactéria e coliformes
Empresários usavam partido para inibir fiscalização de água, diz MP
Na ligação, o sócio da empresa chega a dizer que, diante dos problemas apresentados nas águas minerais distribuídas, perdeu a "confiança" no produto:
– Eu não tenho nem confiança de abrir um cliente mais.
Colling, em vários momentos, insiste que é necessária uma reunião para que todos ensaiem a mesma versão a ser contada para explicar o problema.
– Como tu disse, tem que falar a verdade pro nosso cliente até certo ponto, a ponto de não perder ele – afirma o químico.
Nesta quinta-feira, a ofensiva do MP foi realizada nos municípios de Progresso, Lajeado e Porto Alegre, cumprindo um mandado de busca e apreensão na sede da Mineração Campo Branco Ltda, em Progresso, e prendendo três pessoas preventivamente: os sócios da empresa, Ademar Paulo Ferri e Paulo Moacir Vivian, e o químico industrial Marcelo Colling.
A operação constatou a presença, em lotes da água distribuída pela empresa, da bactéria Pseudomonas aeruginosa, coliformes totais, limo, sujeira e mofo. Além disso, a fonte de onde era captado o líquido estava em situação irregular e havia ainda um poço clandestino que era utilizado para a coleta.
No ano passado, a empresa havia sido fiscalizada pela Coordenadoria Regional de Saúde (CRS), onde um agente havia aplicado multa – reduzida depois pelo coordenador, que teria sido pressionado pelos sócios da marca. Depois, em fevereiro deste ano, após nova vistoria, foi informado que se a situação não fosse regularizada, a empresa seria interditada. Aí então ocorreu uma limpeza na tubulação, usando químicos que soltaram resíduos dos canos e não exterminaram as bactérias. Clientes devolveram garrafas de água que apresentavam flocos no fundo.
A água mineral Do Campo Branco é vendida em grandes redes de supermercado, em eventos de esporte e de música e também foi oferecida em viagens por companhia aérea. O produto também era comercializado pelas marcas Roda D'Água e Carrefour.
O RISCO DE CONSUMO
– Os lotes testados pelo MP continham a bactéria Pseudomonas aeruginosa, coliformes totais, limo, sujeira e mofo.
– A Organização Mundial da Saúde (OMS) estabelece que a água mineral deve ser totalmente livre de coliformes e Pseudomonas, devido à vulnerabilidade de crianças e idosos.
– A bactéria é causadora de infecções respiratórias, urinárias e da corrente sanguínea em pessoas com a saúde debilitada.
– Já a ingestão de coliformes fecais provoca graves distúrbios gastrointestinais.