Antes e depois da suposta tortura de Jaguarão, policiais militares teriam ameaçado e intimidado vítimas e familiares. A Gaúcha conversou com pessoas envolvidas, que, por medo, preferiram não se identificar.
O irmão de uma das vítimas lembra da conversa que teve com um dos brigadianos na delegacia:
“Ele me disse bem assim ‘tchê, o seguinte cara: tu pega e vai te embora daqui e conta com a sorte que eu não te mate ali adiante’, ‘cara, o que eu te fiz? Eu não tenho não tenho ficha na polícia, sou trabalhador, só vim ver meu irmão’. ‘Não, não quero saber de vocês, eu vou matar vocês tudo’.”, narra ele.
A ameaça de morte também surgiu enquanto um dos policiais buscava a moto dele roubada.
“Ele falou que ia nos matar se não aparecesse a moto dele. Nos deu duas horas pra achar a moto dele. Mas como a gente ia achar se não sabia da moto dele?”, questiona-se outro suposto ameaçado.
No processo, foram anexadas provas de quebra de sigilo telefônico. Ligações comprovam chamadas do celular dos policiais para as vítimas de tortura. Esse homem conta que já foi jurado de morte e lembra da última vez que apanhou em casa: “Minhas filhas começaram a gritar em estado de nervo e a mulher, disse ‘o que é bandido, o que é polícia?’. E só falaram ‘não me olha’ e dando e dando”.
Entrar nas residências dos supostos suspeitos sem mandado tem sido uma prática comum, de acordo com essa outra mulher, moradora da periferia: “Agora pegaram essa de invadir a casa, invadiram lá no cerro, invadiram lá no vencato [nomes de bairros populares da cidade]. Estão invadindo tudo. Eles estão tomando conta da cidade”, desabafa.
Os policiais estão presos por tortura e abuso de autoridade desde o dia 13 de setembro. Eles teriam reunido os cinco ladrões mais reincidentes da cidade para obter a confissão de qual deles havia furtado a casa de um dos PMs. O local para o suposto espancamento seria a casa de um dos policiais, conhecida como "chácara da porrada". O Batalhão do qual os envolvidos fazem parte já apresentou outros episódios semelhantes, conforme apontou reportagem da Rádio Gaúcha. Se condenados, eles podem ser expulsos da corporação.