J. J. Camargo* e Fabíola Perin**
O câncer de pulmão está associado ao tabagismo em 85% dos casos. No Brasil, ocupa a quarta posição entre as neoplasias malignas mais frequentes, sendo superado pelo câncer da mama, da próstata e do cólon, porém é o mais frequente em causa de morte. Segundo os dados do Instituto Nacional do Câncer (Inca), no ano de 2023 foram 28.616 mortes atribuídas ao câncer do pulmão. Infelizmente, 80% dos diagnósticos de câncer do pulmão no Brasil são feitos nas fases avançadas da doença.
O candidato preferencial é um paciente fumante há mais de 20 anos, e que fuma mais de 20 cigarros por dia. No nosso meio, o câncer de pulmão é mais comum em homens com idade média de 65 anos.
Na maior parte da evolução de um tumor de pulmão, ele será assintomático. É muito importante que o fumante se mantenha atento aos sintomas que podem sugerir a existência de um tumor, para que o diagnóstico seja feito o mais precocemente possível.
Quais são os sintomas?
Escarro com sangue é uma manifestação relativamente frequente e muitas vezes precoce de tumor de pulmão. Em pacientes da população de risco, esse sintoma torna obrigatória a realização de fibrobroncoscopia, procedimento ambulatorial para demonstrar o local do sangramento e a sua causa. Não se deve aceitar nenhuma justificativa mais simples para esse sintoma.
Repetição de pneumonia: não há razão para uma pneumonia se repetir no mesmo local do pulmão que não seja ter uma lesão no brônquio desse lobo. Aqui, a fibrobroncoscopia é também obrigatória.
Mudança do caráter da tosse: o fumante candidato a desenvolver câncer de pulmão geralmente tem bronquite e é um tossidor crônico. A mudança que deve ser investigada é a do paciente que continua tossindo depois que já não tem mais o que expectorar, sugerindo a presença de algo não expectorável.
Vale prestar atenção à deformidade das unhas, que se tornam arredondadas, , que aumentam de volume e se assemelham a baquetas de tambor (por isso se chama de baqueteamento digital).
Outros sintomas como dor de intensidade crescente, falta de ar, perda de peso, dor de cabeça e perda de força nos membros, perda da voz, inchaço da cabeça e pescoço, quando presentes, representam sinais de doença localmente avançada.
Perspectivas de tratamento
Quando um tumor de pulmão é descoberto durante uma investigação de sintomas, geralmente a chance de cura é muito baixa e a possibilidade de sobreviver por cinco anos ou mais é de cerca de 22%, apesar de novos tratamentos. Por outro lado, nas fases iniciais é possível atingir taxas de cura em cinco anos de mais de 95%, através da ressecção cirúrgica, que, na maioria dos casos, pode ser feita por vídeo ou robótica.
Como podemos fazer o diagnóstico precoce e aumentar a chance de cura diante do câncer que mais mata no nosso país? Desde a década de 1970 se busca por estratégias de diagnóstico precoce. Em 2003, ficou definido que pacientes com mais de 50 anos, fumantes ativos ou ex-fumantes há menos de 15 anos, têm reduzida a chance de morte por câncer de pulmão em cerca de 20% ao realizarem tomografia de tórax com baixa dose de radiação, uma vez ao ano. Dessa forma, foi definido o que se chama rastreamento do câncer do pulmão. Estudos aos 10 e aos 20 anos após o emprego dessa estratégia confirmaram o seu benefício.
No Brasil, em 2023, foi oficializado o protocolo de rastreamento do câncer do pulmão, aos moldes dos protocolos já estabelecidos internacionalmente, necessitando sua implementação no SUS e a sua divulgação para a população.
E vale lembrar: parar de fumar, alimentar-se de forma saudável e praticar atividade física regular são a melhor forma de prevenção de diversas doenças, inclusive do câncer de pulmão.
*Cirurgião torácico, escritor e palestrante, membro titular da Academia Sul-Rio-Grandense de Medicina (ASRM) e da Academia Nacional de Medicina
**Presidente da Sociedade de Cirurgia Torácica do RS e integrante do Programa Novos Talentos da ASRM
Parceria com a Academia
Este artigo faz parte da parceria firmada entre Zero Hora e a Academia Sul-Rio-Grandense de Medicina (ASRM). A estreia foi em março de 2022, com a reportagem "Câncer: do diagnóstico ao tratamento", e está na sua terceira temporada. Uma vez por mês, o caderno Vida vai publicar conteúdos produzidos (ou feitos em colaboração) por médicos da entidade, que completou 30 anos em 2020, conta com cerca de 90 membros de diversas especialidades (oncologia, psiquiatria, oftalmologia, endocrinologia, otorrinolaringologia etc.) e atualmente é presidida pela endocrinologista Miriam da Costa Oliveira, professora e ex-reitora da UFCSPA. Os textos são assinados por um profissional integrante do Programa Novos Talentos da ASRM, que tem coordenação do eletrofisiologista Leandro Zimerman, e por um tutor com larga experiência na área.