A dislexia é um transtorno específico de aprendizado (TEAp) com a maior incidência dentre os transtornos que englobam a neurodiversidade. Lentidão na leitura e para escrever são alguns de seus sinais característicos. De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), entre 5% e 10% da população mundial tem dislexia, na maioria homens.
Há duas formas de classificar e desencadear um quadro do transtorno. Uma delas, é a dislexia do desenvolvimento, que ocorre de forma hereditária e genética. A outra é por meio da chamada dislexia adquirida, que acontece em decorrência de lesões cerebrais, como um acidente vascular cerebral (AVC), por exemplo.
— A dislexia não é uma doença, por isso não tem cura. É uma alteração do funcionamento cerebral — pontua Luiz Gustavo V. Simi, psicólogo e pesquisador da Associação Brasileira de Dislexia (ABD).
Na prática, a dislexia causa alterações de origem neurobiológicas na estrutura de regiões temporoparietais do cérebro.
— Estudos com ressonância magnética funcional indicam alterações durante tarefas de processamento fonológico, que é relacionado ao som das palavras. Existem também algumas alterações no lobo frontal do hemisfério esquerdo, durante o processamento rápido das palavras. De forma geral, afeta a conectividade cerebral — explica o neuropsicólogo do Hospital São Lucas da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS), Eduardo Leal Conceição, que também é doutor em Medicina pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e pesquisador associado no Instituto do Cérebro do Rio Grande do Sul (InsCer).
A mais recente estimativa da OMS, divulgada neste ano, aponta que aproximadamente 8 milhões de brasileiros tem dislexia.
Sinais e dificuldades
Pessoas com este TEAp apresentam dificuldades para interpretar e reconhecer símbolos, em especial da grafia das letras. Ou seja, o transtorno ocasionará lentidão na leitura e para escrever.
Em casos hereditários, os primeiros indícios costumam aparecer durante o processo de alfabetização. Neste panorama, Simi destaca que é importante que professores estejam capacitados e apliquem métodos voltados às características de cada estudante.
— É o professor quem passa mais tempo com a criança, desde a alfabetização até o Ensino Superior. Por isso, nossa fala tem que chegar até eles. É importante apresentar metodologias diferenciadas para tirar o melhor do que cada estudante tem a oferecer.
Além do prejuízo no processo de aprendizado, a dislexia abre margem para problemas de autoestima. Conforme Conceição, crianças ainda não diagnosticadas acabam sofrendo com piadas na escola:
— Quanto antes o diagnóstico, além de maior a chance do desenvolvimento mais saudável da aprendizagem, menor também será o impacto psicológico e de autoestima. Geralmente são pessoas inteligentes, mas que, por essa dificuldade, sofrem bullying, perdem o interesse na escola e acabam evadindo-se.
Diagnóstico e tratamento
Para determinar um quadro de dislexia, o paciente passa por uma série de avaliações multidisciplinares. Além de avaliações neurológica clínica, fonoaudióloga, psicopedagógica e neuropsicológica, há exames como audiometria, processamento auditivo, processamento visual e questionários complementares.
Não há um tratamento específico para a dislexia, cada diagnóstico requer cuidado especial e ações determinadas. Os profissionais traçam um plano de tratamento se adequando às principais dificuldades apresentadas pelo paciente e, também, a sua idade e rotina.
— (Em) um aluno em processo de alfabetização, por exemplo, o mais indicado é a intervenção fonoaudiológica, estimulando o desenvolvimento da linguagem. No caso de estudantes universitários, recomenda-se a terapia psicopedagógica, por exemplo. O objetivo será traçar as melhores estratégias para a aprendizagem, técnicas de estudo, organização e planejamento. Em algumas situações, haverá um trabalho conjunto de diversas áreas — conta Simi.
Para ter um processo de aprendizagem saudável, o paciente recebe estímulos cognitivos. A estratégia é desenvolvida pelas equipes multidisciplinares, conforme a necessidade de cada caso.
— Realizamos alguns tipos de estimulação cognitiva. Já que ele tem uma dificuldade de leitura, por exemplo, é importante que aprenda de forma mais visual. Outros tipos de estratégias de aprendizagem, que não apenas a leitura e fala automatizada, são desenvolvidos para atender cada paciente de acordo com a sua necessidade — explica o neuropsicólogo Eduardo Leal Conceição.
*Produção: Lucas de Oliveira