Durante a gestação, as mulheres costumam receber uma enxurrada de dicas e conselhos sobre o que pode e o que não pode ser feito no decorrer dos nove meses. Por isso, é comum que as futuras mamães tenham uma série de dúvidas em relação ao assunto — e, entre os temas mais recorrentes, está a alimentação.
Inúmeras publicações nas redes sociais afirmam, por exemplo, que ingerir carnes ou peixes crus nesse período pode fazer mal. Mas será que é verdade?
Alessandra Leal Bottini, médica ginecologista e obstetra do Hospital Mãe de Deus, garante que sim e explica que a preocupação se deve principalmente ao risco de contaminação por um protozoário chamado Toxoplasma gondii, que pode se alojar em carnes cruas ou mal cozidas e é responsável pela doença conhecida como toxoplasmose:
— Esta infecção não apresenta sintomas na grande maioria dos casos, porém, durante a gestação está associada ao risco de surdez, cegueira e atraso no desenvolvimento neuropsicomotor do bebê. Em alguns casos, pode levar ao aborto.
O parasita também pode estar presente nas fezes de gatos contaminados e, em decorrência disso, frutas e verduras não higienizadas podem causar a doença (veja, no final do texto, dicas de higiene para evitar a contaminação).
No entanto, de acordo com Pamela Schitz Von Reisswitz, coordenadora do serviço de nutrição do Hospital Nossa Senhora da Conceição (HNSC), se a grávida já teve contato com o toxoplasma, ela se torna imune e não corre o risco de contrair a doença novamente. Por isso, no começo do pré-natal, as gestantes precisam fazer um exame de sangue para verificar se é suscetível ou não.
As especialistas ainda ressaltam que o peixe cru geralmente é evitado pelas grávidas, mas não faz parte do ciclo do toxoplasma — ou seja, não se pode contrair toxoplasmose pelo consumo de peixe cru. Mesmo assim, há risco de infecção por outros parasitas e de contaminação por mercúrio, um metal pesado que pode ser encontrado em diversos peixes de água fria.
— A recomendação evitar ou reduzir o consumo para minimizar o risco, porém, se a pessoa estiver com muita vontade de comer, deve escolher restaurantes de confiança, com produtos de boa procedência, que apresente boas condições de higiene e cuidado com a manipulação e preparação dos pratos — aconselha Alessandra.
Pamela enfatiza que as gestantes devem procurar ter uma alimentação saudável como um todo, evitando principalmente os excessos de cafeína, sal e açúcar. Segundo ela, o acompanhamento nutricional não faz parte do pré-natal comum, mas indica-se ao menos duas consultas durante a gravidez para melhores orientações.
Dicas para evitar a contaminação por toxoplasmose
- Consumir sempre carnes bem cozidas — inclusive o churrasco, que para gestante deve ser bem passado;
- Congelar as carnes por no mínimo três dias;
- Lavar as mãos depois de manipular alimentos crus e depois do contato com animais;
- Utilizar luvas e higienizar bem as mãos após manipulação de terra ou cuidados com horta ou jardim;
- Higienizar verduras, legumes e frutas que serão consumidos crus por meio de seleção, lavagem manual, desinfecção e enxague;
- Consumir somente água mineral ou filtrada;
- Evitar o consumo de saladas e frutas com casca fora de casa se não tiver certeza de que foram bem higienizadas;
- Manter um bom acompanhamento pré-natal, com realização de testes sorológicos para identificar as gestantes em risco e detectar casos de infecção para recomendação de tratamento específico.
Como realizar o processo de higiene de verduras, legumes e frutas?
A desinfecção dos alimentos pode ser realizada com solução clorada. Para isso, é preciso diluir uma colher de sopa de hipoclorito, também conhecido como água sanitária, para cada um litro de água. Deixe os alimentos imersos nessa solução por cerca de 15 minutos e enxague.
*Produção: Jhully Costa