Dentro de poucos dias, a estação mais fria do ano se inicia oficialmente no Hemisfério Sul. Neste ano, o inverno traz consigo um desafio além das baixas temperaturas: a pandemia de coronavírus. Ainda no terreno das dúvidas em relação à evolução da doença, uma das poucas certezas de especialistas é de que os cuidados gerais com a saúde precisam ser mantidos e, em alguns casos, até redobrados.
O inverno começa às 18h44min do dia 20 de junho. No Rio Grande do Sul, o friozinho já deu as caras. Conforme os prognósticos da Somar Meteorologia, a estação deve começar com bastante chuva no Estado, especialmente em junho. Assim, as baixas temperaturas devem dar uma trégua. A partir do próximo mês, as ondas de frio devem ganhar força, com pico entre o fim de julho e começo de agosto.
Mesmo em uma situação atípica, cumprindo o isolamento social dentro de casa, é preciso abrir os olhos e tomar certos cuidados que podem ajudar a reduzir os riscos de adoecer e necessitar ir a um hospital. Para quem já retomou as atividades externas, a recomendação segue a mesma: distanciamento entre as pessoas, uso de máscaras e higienização constante das mãos.
— Que as pessoas mantenham o distanciamento de 1,5 metro a dois metros entre todo mundo. Evitar toque, aperto de mãos, contato físico. Muitas vezes as pessoas se cuidam, não ficam em aglomerações, mas, no ambiente de trabalho, no intervalo do lanche, sentam próximas e até compartilham coisas. É necessário evitar esse contato. Quanto menos, melhor — enfatiza Claudio Stadnik, infectologista da Santa Casa de Porto Alegre.
Confira, então, dicas para encarar o frio:
Fique quentinho
Para manter a temperatura corporal em 36°C em dias em que os termômetros estão em baixa lá fora, o organismo precisa fazer adaptações. Você pode dar uma mão, aquecendo o corpo. Mantenha-se bem agasalhado, mesmo dentro de casa, e proteja bem as extremidades: pés, mãos, pescoço e cabeça.
Na hora de sair para rua ou mesmo de passar de um cômodo climatizado com ar-condicionado, por exemplo, para outro, também reforce as roupas.
— Mudanças bruscas de temperatura afetam o mecanismo de defesa do organismo. Evite sair do banho quente para um quarto úmido e frio. Quem sair para rua precisa colocar uma jaqueta que possa tirar no decorrer do dia e recolocá-la ao voltar para rua — sugere Adalberto Rubin, chefe do Serviço de Pneumologia da Santa Casa de Porto Alegre.
Na hora de dormir, aposte em um ambiente aconchegante. Aparelhos de ar-condicionado e estufas podem ajudar a esquentar o quarto, bem como lençóis-térmicos. Estes últimos só devem ser usados para aquecer a cama, sendo contraindicado dormir com eles ligados. Já o ar deve ser ligado a 24°C.
Cuide (mais) da saúde
Para Adalberto Rubin, um dos grandes desafios deste inverno envolve o diagnóstico da covid-19 e das outras doenças respiratórias comuns da época. Como diferenciar uma infecção por coronavírus ou uma crise alérgica ou virose se os sintomas são semelhantes?
Daí aumenta a importância do isolamento social, especialmente para pessoas acima dos 60 anos ou com comorbidades, das medidas de higienização das mãos e do uso de máscaras. O infectologista Claudio Stadnik acrescenta:
— Todos, no máximo possível, devem estar vacinados contra a gripe. Aqueles que tiverem acesso à imunização, seja pelo SUS, seja privada ou pela empresa que trabalham, devem fazer.
Manter uma alimentação balanceada e evitar o tabagismo também são medidas fundamentais. Para quem correu até uma farmácia em busca de suplementação para melhorar a imunidade, eis o alerta de Stadnik:
— Nada que se faça agora vai mudar para o mês que vem. É longo prazo, é manutenção. Isso sim é saudável.
Ventile-se
Mesmo em casa, mantenha os ambientes arejados para evitar a proliferação de vírus e bactérias. Rubin sugere abrir os cômodos no período mais quente do dia para que o ar circule.
Em ambientes públicos, como ônibus, por exemplo, vale o bom senso: se estiver muito frio, não precisa abrir todas as janelas, desde que todos os passageiros estejam usando máscaras.
Não pare tratamentos
Pessoas com algum problema respiratório crônico têm como regra manter o tratamento receitado pelo seu médico. Em caso de necessidade, devem procurar o profissional, mesmo que através de teleconsultas.
— Façam o tratamento para as condições de base. Asma e enfisema, por exemplo, precisam de manutenção. As pessoas podem deixar de usar os medicamentos agora e ter complicações daqui um mês, necessitando ir até uma instituição de saúde, onde pode ter contato com o coronavírus — diz o infectologista Stadnik.
O mesmo vale para outras condições, como doenças do coração, hipertensão e diabetes.
Proteja a pele
Com as baixas temperaturas, é comum ficar com a pele mais ressecada em decorrência do clima mais seco em algumas regiões e também dos banhos mais longos e quentes. Uma saída para evitar a secura é apostar na hidratação com cremes após a higiene e também utilizar sabonetes chamados “syndet”, que não são tão irritantes e ajudam a manter a hidratação, explica Alessandra Romiti, coordenadora do Departamento de Cosmiatria da Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD).
Em 2020, quem também precisa atenção especial são as mãos: o excesso de lavagens e o uso exagerado de álcool em gel podem acabar ressecando-as.
— É importante orientar as pessoas que o que precisa é a higiene habitual, sem exagero. Dentro de casa, se a pessoa não está exposta, não precisa ficar passando álcool em gel. Tudo isso aumenta a irritação da pele. Usar o produto é importante quando temos contato com alguma coisa ou superfície que outra pessoa manipulou — alerta a dermatologista.
Pessoas que estão na rua e fazem uso do álcool em gel podem garantir mãos mais hidratadas aplicando um creme algumas vezes ao dia. No período da noite, quando não forem mais sair, pode-se caprichar na hidratação.
Preserve as máscaras
Quem usa máscaras de tecido comum deve substituí-las a cada três ou quatro horas, no máximo. Não é recomendado usar produtos agressivos para sua lavagem: água e sabão são suficientes.
— Tem gente usando alguns produtos na lavagem que podem causar alergia — aponta a dermatologista Alessandra.
Já quem trabalha em hospitais e precisa de máscaras específicas pode aderir à hidratação facial para agredir menos a pele que fica em contato com o equipamento.
Busque o sol, mas...
Bom para o humor e para outras funções essenciais do corpo, tomar sol é permitido, sim. Porém, todas as partes expostas precisam, obrigatoriamente, estar protegidas com filtro solar, e o tempo de exposição deve ser mínimo.
— Orientamos que esse momento seja fora dos horários de pico dos raios solares, com o vidro aberto, com filtro solar e por poucos minutos. De 10 a 15 é suficiente — ensina Alessandra.
Dê cor aos pratos
Sim, sentimos mais fome no inverno. Como gastamos mais calorias para manter o corpo aquecido, o organismo “pede” mais alimentos para repô-las. Então, aposte em alimentos naturais e que reforcem a sensação de saciedade.
— Não há alimentos vilões. Tudo é quantidade e equilíbrio — diz Graciana Neumann, nutricionista e farmacêutica.
Além de fugir dos exageros, é imprescindível seguir uma dieta rica em vegetais e cereais integrais.
— Os processados e industrializados têm conservantes que acabam aumentando os radicais livres, aumentando um processo inflamatório corporal, o que pode acarretar mais doenças — justifica.
A saída é colorir os pratos e não pular nenhuma das três principais refeições – café da manhã, almoço e janta. Nesses momentos, é bom incluir proteínas como ovos, frango ou sementes, como as de abóbora, para garantir a saciedade.
Sopas e caldos são muito bem-vindos. A nutricionista sugere usar um tubérculo ou raiz, como batata doce, batata inglesa, aipim, mandioquinha e cenoura, associada a verdes como espinafre e brócolis. O complemento fica por conta da proteína. Deve-se fugir das preparações com requeijão ou creme de leite. O queijo tipo cottage é um bom substituto.
Não esqueça de ingerir bastante líquidos. De um a dois litros de água por dia. Chá é uma opção, mas não à noite.
Movimente-se
Se praticar exercícios no frio já era difícil, agora parece que ficou ainda mais. É preciso força de vontade para encarar as atividades adaptadas para dentro de casa.
— A pandemia tem total importância, mas não podemos esquecer dos problemas que sedentarismo causa. É preciso se manter ativo. Não é ser atleta, é manter o corpo em movimento. Quanto mais sedentário, mais suscetível a doenças crônicas como diabetes, hipertensão e obesidade — afirma Adriano Detoni Filho, professor do curso de Educação Física da Escola de Ciências da Saúde e da Vida da PUCRS.
Tanto para quem está se exercitando em casa quanto para quem já retornou às academias, a dica do professor é não exagerar. Retomar as atividades gradativamente é o segredo para não deprimir o sistema imunológico nem causar uma lesão.
Medidas simples já são um bom começo: que tal deixar o elevador de lado e subir de escadas? Ou então, dedicar alguns minutos para uma caminhada pela casa ou mesmo na rua, com todas as proteções necessárias?
O bônus de se manter ativo nos dias mais frios é gastar mais calorias o que, combinado com uma alimentação equilibrada, pode dar uma forcinha na hora de eliminar uns quilos extra.
— O frio é um aliado da perda de peso. Nosso corpo precisa de mais calorias para se manter aquecido, aumentando o gasto energético. Estudo sugerem que as baixas temperaturas podem gerar um gasto 30% maior. Mas lembrando: é preciso fazer de forma gradual e com orientação de um profissional de educação física e nutrição — conclui o docente.
E na rua? Praticantes de exercícios ao ar livre também têm a recomendação de usar máscaras durante a prática. O que Filho sugere é que o indivíduo tenha máscaras de diferentes materiais e as teste com atividades mais leves. Quando definir o melhor componente, vá se adaptando aos poucos ao uso do equipamento antes de sair em alta intensidade.
Para encarar o frio, a dica é apostar em roupas térmicas específicas para prática de exercícios. Elas garantem o aquecimento corporal e a adequada liberação da transpiração. Por fim, mantenha sempre a hidratação com bastante água.